Energia solar pode aliviar crise hídrica no setor elétrico, defende Absolar
O Portal Solar apurou o custo de R$ 4,9 bilhões com encargos entre janeiro e abril de 2021, volume que supera as despesas totais de 2020


A geração solar distribuída, na qual o próprio consumidor pode instalar sistemas fotovoltaicos em telhados e pequenos terrenos, pode contribuir para reduzir a demanda de eletricidade do Brasil, sobretudo nos horários de maior consumo, entre 11h e 18h. Nesta semana, o mercado de geração própria alcançou a marca de 6 gigawatts (GW) no Brasil, sendo 5,89 GW de potência instalada provenientes da energia solar.
“Metade de toda a capacidade da geração própria de energia solar do Brasil foi instalada em 2020, com investimentos diretos dos consumidores e da sociedade, sem depender de recursos do governo", disse o presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia.
"Isso demonstra a agilidade e resiliência desta modalidade, que está ajudando muito o Brasil em plena situação de crise hídrica, pois gera uma energia elétrica competitiva, sustentável e que não depende de água”, completou.
Leia mais: Mercado de geração distribuída alcança a marca de 6 GW no Brasil
O Brasil enfrenta atualmente a pior seca dos últimos 91 anos, que deixou o subsistema Sudeste/Centro-Oeste com apenas 32% da sua capacidade – a média dos últimos 20 anos é de 64%.
A Agência Nacional de Águas (ANA) publicou neste mês a Resolução ANA nº 77, declarando situação de crítica dos recursos hídricos na Região do Paraná. A declaração vigora até 30 de novembro, quando começa o período chuvoso na região.
Neste início de período seco o cenário é crítico, podendo haver agravamento da situação nos próximos meses. A expectativa dos especialistas é de que a bandeira vermelha patamar 2 (custo adicional de R$6,243 para cada 100kWh) permaneça até o final do ano.
Para compensar a falta de geração hidrelétrica, o Operador Nacional do Sistema (ONS) está utilizando um grande volume de termelétricas. O Portal Solar apurou o custo de R$ 4,9 bilhões com Encargos de Serviço do Sistema (ESS) entre janeiro e abril de 2021, com base em dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), divulgados ontem (10/6). Esse volume financeiro já supera o montante de todo o ESS de 2020, quando os encargos somaram R$ 4,30 bilhões.
Em cinco meses, o custo da geração térmica por segurança energética soma R$ 3,32 bilhões em 2021.
Adicionalmente, o Brasil ficou mais dependente dos países vizinhos, pois passou a importar energia elétrica com mais intensidade da Argentina e do Uruguai. O custo da importação de energia soma R$ 881,8 milhões de janeiro a abril de 2021, de acordo com a CCEE. Em igual período do ano passado, essa despesa foi de apenas R$ 27,18 milhões.
Em 2020, o gasto total com importação de energia chegou a R$ 1,8 bilhão.
Segundo o gerente comercial da distribuidora de equipamentos fotovoltaicos Sou Energy, Mário Viana, a necessidade de acionamento das termelétricas poderia ser evitada com a geração própria de energia através dos painéis fotovoltaicos.
“As usinas termelétricas são mais poluentes e mais caras que as usinas hidrelétricas. O custo de sua utilização é o responsável pelo acionamento da bandeira vermelha patamar 2, com custo de R$ 6,243 para cada 100kWh (quilowatts-hora) consumidos”, afirma o executivo. No mês anterior, a cobrança era de R$ 4,169 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
O Brasil atingiu a marca histórica de 9 GW de potência operacional da fonte solar fotovoltaica em usinas de grande porte e pequenos e médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos.
Para a Absolar, o Projeto de Lei (PL) nº 5.829/2019, que cria o marco legal da geração distribuída no Brasil, fortalecerá a diversidade e segurança de suprimento elétrico do Brasil, aliviando ainda mais a pressão sobre os recursos hídricos, reduzindo a dependência das termelétricas fósseis e da importação de energia e contribuindo para a redução da conta de luz de todos os consumidores.
“Desde 2019, a fonte solar fotovoltaica já é a opção mais competitiva do País. Ela também tem rápida implementação, seja em grandes usinas ou na geração própria em residências, pequenos negócios, propriedades rurais e prédios públicos”, destacou Sauaia.

Wagner Freire
Jornalista com Bacharel em Comunicação Social pela FMU e pós-graduado em Finanças. Especialista com mais de 10 anos de experiência na cobertura do mercado de energia elétrica, tendo trabalhado no Estadão, CanalEnergia, Jornal da Energia, Revista GTD e DCI.
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