Medida Provisória pode resultar em aumento da conta de luz no longo prazo
Entidades avaliam que iniciativa do governo federal pode ter efeito contrário ao objetivo de reduzir reajustes tarifários e apenas transfere custos atuais para o futuro


A Medida Provisória das Energias Renováveis e de Redução de Impactos Tarifários (MP 1.212/2024), anunciada pelo governo federal na última terça-feira (09/04), pode resultar em aumento na conta de luz no longo prazo, avaliam entidades do setor elétrico. O texto, publicado no Diário Oficial da União de quarta-feira (10/04), visa combater distorções tarifárias criadas em anos anteriores.
Conforme o Ministério de Minas e Energia (MME), a medida possibilita o pagamento da Conta Covid e da Conta Escassez Hídrica a partir da antecipação do recebimento de recursos a serem pagos em função do processo de desestatização da Eletrobras.
A expectativa da pasta é que haja diminuição de pelo menos 3,5% nos reajustes anuais de tarifa de energia elétrica. A proposta também adequa os reajustes da energia do Amapá à média da região Norte, que é de 9%. Havia uma previsão de aumento tarifário acima dos 40% no estado.
A MP ainda permite adequação de prazos de projetos concretos relacionadas à geração de energia limpa e renovável ao cronograma de implantação das linhas de transmissão leiloadas neste governo para escoamento para o centro de carga. O prazo para entrada em operação comercial com benefícios é março de 2029.
Efeito contrário
A Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace) entende que a medida provisória tem o mérito de abordar o problema dos custos elevados da energia, mas alternativas nessa direção precisam ser estruturais e sustentáveis. “Na prática, a MP vai na direção contrária às intenções, pois representa apenas uma nova transferência de custos atuais para o futuro”, alertou o diretor-presidente da Anace, Carlos Faria.
Leia mais: Confira o ranking das tarifas de energia mais caras do Brasil em 2023
A entidade avalia que o encaminhamento dado por meio da MP não só tem efeito limitado, como terá consequências graves em médio e longo prazo, uma vez que a prorrogação, por três anos, dos subsídios a projetos renováveis impactará a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) por 25 anos além desse prazo, durante toda a concessão das usinas a serem instaladas.
“Os resultados dos últimos leilões e o custo da energia no mercado livre demonstram que essas usinas já são competitivas e não dependem mais de subsídios”, reforçou Faria. Para a Anace, somente uma ampla reforma setorial, a ser realizada em conjunto pela sociedade, Poder Legislativo e Poder Executivo, e abrangendo a real alocação de riscos e custos da energia elétrica, poderá tentar solucionar todos os problemas vivenciados no setor, incluindo o custo excessivo da energia.
A Frente Nacional dos Consumidores de Energia viu como positiva a solução para atenuar a revisão tarifária no Amapá, mas avalia como incoerente e prejudicial a proposição de regras que aumentam os encargos que compõem a tarifa e ainda antecipam recursos futuros criando uma despesa adicional que acabará recaindo sobre os consumidores nos próximos anos.
Conforme a entidade, a prorrogação por 36 meses do subsídio para projetos de energia renovável elevará o custo da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que em 2023 passou de R$ 40 bilhões e respondeu por 13,21% da tarifa dos consumidores residenciais. Hoje, os subsídios respondem por 16% do valor pago na conta de luz do brasileiro.
“Com a nova MP, esse custo aumentará ainda mais e de forma imediata. Para atenuar o impacto desse aumento, o governo federal propõe antecipar recebíveis da Eletrobras, operação securitizada pela qual pagará juros e outras taxas. O custo dessa operação de crédito se tornará um passivo para os próximos anos”, apontou o comunicado da Frente Nacional dos Consumidores de Energia.

Ricardo Casarin
Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.
Artigos que podem te interessar

A Muralha Regulatória que Protege o Sol: Como a ABNT e o CONFAZ Blindam o Setor Fotovoltaico contra o Casualismo Fiscal
O Brasil vive um paradoxo solar. Enquanto o país celebra recordes de instalação de energia fotovoltaica, impulsionado por uma matriz energética que se orgulha de sua crescente sustentabilidade, uma sombra de instabilidade jurídica
08/12/20253 min de leitura

PLP 182/2025: A tempestade tributária que pode afogar a energia solar brasileira
O governo federal está revivendo uma proposta que há 20 anos causou uma das maiores revoltas do setor produtivo brasileiro. O PLP 182/2025 traz de volta o espírito da famigerada MP 232 de 2004, conhecida como "tsunami tributário".
28/11/202510 min de leitura

A Lei 15.269 e o gosto amargo da insegurança jurídica
A sanção da Lei nº 15.269/2025, originada da Medida Provisória 1.304, deveria ser um momento de celebração para o setor elétrico brasileiro. E, em muitos aspectos, ela representa um avanço inegável.
26/11/20254 min de leitura
Reforma do setor elétrico é sancionada e convertida na Lei 15.269/2025
Texto final da MP 1.304 incluiu abertura do mercado livre e regulamentação do armazenamento de energia; ressarcimento por cortes de geração foi vetado
25/11/20256 min de leitura
Acordo final da COP30 omite menção a combustíveis fósseis
Conferência teve como principal resultado compromisso de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano para ações climáticas
24/11/20252 min de leitura

Segurança jurídica na geração distribuída: a análise da motivação no desmembramento de usinas
Decisões subjetivas das distribuidoras sobre divisão de usinas criam insegurança jurídica e prejudicam investimentos em energia.
18/11/20257 min de leitura
Vetos à MP 1.304 podem comprometer investimentos em renováveis no Brasil
Absolar alerta que retirar a possibilidade de compensação às usinas afetadas por cortes de geração reduzirá atratividade de grandes projetos no país
17/11/20253 min de leitura
MP 1.304: entenda como será a abertura do mercado livre de energia
Aprovada pelo Congresso, reforma do setor elétrico permitirá adesão de todos os consumidores do país ao Ambiente de Contratação Livre (ACL)
12/11/20252 min de leitura

