Energia solar no Minha Casa, Minha Vida pode reduzir subsídios em R$ 670 milhões
Levantamento da Absolar e da Revolusolar indica benefício da medida para todos os consumidores de eletricidade do Brasil


A adoção da tecnologia fotovoltaica no Programa Minha Casa, Minha Vida pode reduzir em R$ 670 milhões os subsídios da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) já em 2023, mostram segundo cálculos feitos pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e pela organização sem fins lucrativos Revolusolar.
Criada em abril de 2002, a CDE é um encargo setorial destinado à promoção do desenvolvimento energético do Brasil, incluindo recursos direcionados para a tarifa social. Esses subsídios são rateados por todos os consumidores de energia elétrica no Brasil.
Conforme o estudo, a partir de 2024, a diminuição anual será ainda maior. Os cálculos, enviados ao governo federal, apresentam cenários comparativos, com e sem a inclusão da energia solar fotovoltaica no programa.
Os resultados evidenciam os benefícios da tecnologia fotovoltaica para a população de baixa renda e seus reflexos na redução de custos da CDE, ou seja, beneficiando também os demais consumidores que não possuem energia solar diretamente.
Atualmente, os consumidores de baixa renda já recebem subsídios, por meio da Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE), pagos pelos demais consumidores de energia elétrica via CDE. Com a geração solar de eletricidade no telhado das casas populares, haverá menos energia elétrica consumida da rede a ser paga pelos demais consumidores do setor elétrico.
“Isso trará uma redução estrutural da CDE, um investimento social que faz sentido para o Governo Federal e que alivia um peso grande em subsídios pagos atualmente pelos demais consumidores brasileiros”, apontou o presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia.
Ruído de comunicação
Na visão da associação e da Revolusolar, está havendo ruído de comunicação e confusão sobre o tema da inclusão da energia solar fotovoltaica no programa habitacional, motivo que levou as duas entidades a prepararem um levantamento detalhado esclarecendo o tema para o governo federal.
“O tema que está em debate neste momento é o uso da energia solar fotovoltaica, que é a geração de eletricidade limpa, renovável e competitiva, a partir da radiação solar, para ajudar a reduzir sensivelmente a conta de luz dos moradores do programa habitacional. Não há relação com os aquecedores solares para esquentar água do banho, que fizeram parte do programa desde 2009”, explicou Sauaia.
A tecnologia fotovoltaica ainda não foi incorporada amplamente no Programa Minha Casa Minha Vida, apenas em casos pontuais, e sempre com sucesso, como no caso da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU-SP). O uso da solar fotovoltaica nas casas populares em São Paulo deu tão certo que a tecnologia passou a ser utilizada em todas as novas habitações de interesse sociais entregues no estado.
Por sua vez, a inclusão da tecnologia no programa habitacional do Governo Federal reduzirá a conta de luz da população de baixa renda, aliviará o orçamento dos mais pobres, promoverá justiça social e ainda acelerará a transição energética no Brasil.
“Cada real que uma família de baixa renda deixa de gastar com conta de luz no final do mês é um real a mais que terá no seu bolso para melhorar sua alimentação, saúde, educação, transporte e qualidade de vida. Por isso, a inclusão da energia solar fotovoltaica no Programa Minha Casa Minha Vida é fundamental e conta com forte apoio da sociedade”, ressaltou Sauaia.
Venda de excedente
Em relação à geração de excedentes para venda de energia elétrica, principal ponto de controvérsia no setor elétrico, a Absolar avalia que não é necessário superdimensionar os sistemas fotovoltaicos do programa habitacional, para vender excedente de energia elétrica.
“Esse ponto não é necessário. Não precisa gerar mais eletricidade do que as pessoas vão usar. Isso aumentaria os custos do programa habitacional e diminuiria seu impacto social. Basta dimensionar o sistema para reduzir as contas de luz em até 85%, o que não gera custo nenhum para a sociedade, pelo contrário, reduz custos”, defendeu Sauaia.
Na visão da Absolar, a medida está em total sintonia com os esforços do Governo Federal em prol de uma transição energética justa no Brasil e do combate às mudanças climáticas, dado que fortalece e democratiza o uso de fontes renováveis de geração de energia elétrica no País.
“Portanto, a inclusão da energia solar no Programa Minha Casa Minha Vida irá trazer inúmeros benefícios à população de baixa renda, incluindo, economia e aumento do poder aquisitivo da população menos favorecida, redução na inadimplência das prestações do imóvel e conta de eletricidade, geração de emprego e renda, fortalecimento da cadeia produtiva e aquecimento da economia, redução de impactos ambientais e conscientização da população”, conclui Sauaia.

Ricardo Casarin
Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.
Artigos que podem te interessar

A Muralha Regulatória que Protege o Sol: Como a ABNT e o CONFAZ Blindam o Setor Fotovoltaico contra o Casualismo Fiscal
O Brasil vive um paradoxo solar. Enquanto o país celebra recordes de instalação de energia fotovoltaica, impulsionado por uma matriz energética que se orgulha de sua crescente sustentabilidade, uma sombra de instabilidade jurídica
08/12/20253 min de leitura

PLP 182/2025: A tempestade tributária que pode afogar a energia solar brasileira
O governo federal está revivendo uma proposta que há 20 anos causou uma das maiores revoltas do setor produtivo brasileiro. O PLP 182/2025 traz de volta o espírito da famigerada MP 232 de 2004, conhecida como "tsunami tributário".
28/11/202510 min de leitura

A Lei 15.269 e o gosto amargo da insegurança jurídica
A sanção da Lei nº 15.269/2025, originada da Medida Provisória 1.304, deveria ser um momento de celebração para o setor elétrico brasileiro. E, em muitos aspectos, ela representa um avanço inegável.
26/11/20254 min de leitura
Reforma do setor elétrico é sancionada e convertida na Lei 15.269/2025
Texto final da MP 1.304 incluiu abertura do mercado livre e regulamentação do armazenamento de energia; ressarcimento por cortes de geração foi vetado
25/11/20256 min de leitura
Acordo final da COP30 omite menção a combustíveis fósseis
Conferência teve como principal resultado compromisso de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano para ações climáticas
24/11/20252 min de leitura

Segurança jurídica na geração distribuída: a análise da motivação no desmembramento de usinas
Decisões subjetivas das distribuidoras sobre divisão de usinas criam insegurança jurídica e prejudicam investimentos em energia.
18/11/20257 min de leitura
Vetos à MP 1.304 podem comprometer investimentos em renováveis no Brasil
Absolar alerta que retirar a possibilidade de compensação às usinas afetadas por cortes de geração reduzirá atratividade de grandes projetos no país
17/11/20253 min de leitura
MP 1.304: entenda como será a abertura do mercado livre de energia
Aprovada pelo Congresso, reforma do setor elétrico permitirá adesão de todos os consumidores do país ao Ambiente de Contratação Livre (ACL)
12/11/20252 min de leitura

