Sistema de ultra-alta tensão colabora para futuro mais limpo no Brasil
Mesmo que a geração elétrica tenha sua base em energia renovável, nem sempre a fonte de geração está próxima ao centro de carga

Mesmo que a geração elétrica tenha sua base em energia renovável, nem sempre a fonte de geração está próxima ao centro de carga. Já pensou nos caminhos que a eletricidade percorre para chegar à sua residência? Quantos quilômetros de linhas são necessários até que os consumidores possam ter acesso à energia? Essas são algumas perguntas que pairam nos ares que envolvem os sistemas de transmissão.
Contudo, hoje, existem tecnologias alternativas capazes de otimizar esse processo e evitar danos e falhas a quaisquer sistemas, são elas a High Voltage Direct Current (HVDC) e a Ultra-high Voltage Direct Current (UHVDC), ambas capazes de proporcionar um percurso eficiente e sustentável, levando energia limpa a milhões de pessoas, de maneira rápida e eficiente.
A tecnologia HVDC exerce um papel fundamental na garantia da eficácia no fornecimento de eletricidade. Esse sistema é ideal para as redes de Corrente Alternada (AC) - permitindo uma transmissão de longa distância – até 600 quilômetros - ligações de rede transnacionais, transporte de altas potências, interligação com diferentes frequências e acesso à rede onshore e offshore.
Existem vários benefícios, mas os principais são a estabilidade das redes com alta potência, impulsionando o desempenho e fornecendo firewall contra apagões advindos de sobrecargas. E mais, por ter essa funcionalidade de suportar sobrecarga, a tecnologia propicia energia suficiente para emergências, sem que haja necessidade de investir em infraestruturas.
Se isso já é benéfico para o setor elétrico, consegue imaginar o que são redes UHVDC? Ideal para os sistemas de Corrente Contínua (CC) a UHVDC é uma tecnologia desenvolvida na China e na Rússia (mas que já chegou ao Brasil) e possui todas as vantagens mencionadas, mas de forma ainda mais potente.
No Brasil, a usina hidrelétrica de Belo Monte foi pioneira em utilizar a tecnologia UHDVC, com o sistema de conexão “Xingu – Rio”. Com esse projeto, 4 mil megawatts de energia limpa são transportados por cinco Estados: Pará, Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro, ou seja, 81 municípios brasileiros – o equivalente a dois mil quinhentos e trinta e nove quilômetros – levando eletricidade de forma confiável e eficiente a cerca de 10 milhões de pessoas.
Ao todo, o projeto conta com 4.448 torres, mais de 800 quilovolts (kv) e cruza três biomas: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. O avanço da transição energética e a potência tecnológica utilizada nessa construção foi inédita no Brasil e na América Latina, realizado pela empresa chinesa State Grid Brazil Holding (SGBH).
E se esse percurso grandioso foi criado no Brasil, a China – que desenvolveu a tecnologia – não poderia ficar para trás. O país já é líder na fabricação de linhas de transmissão de Corrente Contínua e Alternada e investiu não apenas na criação de parques eólicos e solares, mas também, em fazer a eletricidade atravessar centenas de quilômetros de distância para atender os consumidores. Seus equipamentos permitem que a eletricidade chegue até as estações em Corrente Alternada, onde diversos transformadores as alimentam e as convertem em Corrente Contínua. Depois, ela atravessa quase 3 mil quilômetros para alimentar as redes da região.
Além disso, o país interligou um circuito de 30 mil quilômetros de extensão, criando uma super rede emergente e trabalhando com seis sistemas que distribuem energia limpa aos cidadãos. Vale lembrar que com as mais altas tensões de corrente contínua fluindo por meio dos condutores, a quantidade de energia perdida pelo caminho é reduzida a quase zero.
Agora, o plano da China é ainda mais ambicioso: construir a maior rede do mundo. Devido ao avanço das UHDVC, a Renewable Energy Institute – organização com sede em Tóquio – pretende interligar todo o nordeste da Ásia, com redes que conectem China, Japão, Mongólia, Rússia e Coréia do Sul. Ou seja, energia renovável para todos que vivem nessas regiões até 2050. E o melhor, sem desperdícios e chances mínimas de falhas.
Se considerarmos que o desenvolvimento social, econômico e tecnológico de um país está fortemente ligado às bases energéticas, podemos dizer que avanços nos sistemas de transmissão e distribuição estão diretamente conectados a evolução das nações. No Brasil, o Laboratório de Ultra-Alta Tensão (AT5), do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) busca formas de impulsionar o potencial elétrico nacional, inclusive com tecnologias HVDC e UHVDC.
Com essas inovações, seria possível alcançar uma infraestrutura urbana que melhore a qualidade de vida das pessoas e contribua para uma sociedade mais próspera. Além, é claro, de proporcionar mais sustentabilidade na forma que indústrias e sociedade recebem a energia.
**Marisa Zampolli é CEO da MM Soluções Integradas, engenheira elétrica e especialista em Gestão de Ativos.
Marisa Zampolli
Marisa Zampolli é engenheira elétrica, CEO da MM Soluções Integradas e integrante da ABNT. É especialista em Gestão de Projetos, Gestão de Ativos, Energia Sustentável, Energia Renovável e Planejamento do Sistema Elétrico, além de consultora da International Copper Association na América Latina (ICA). Já foi coordenadora do programa de eletromobilidade do Procobre e consultora no programa de aplicação de sistemas de aquecimento solar para comunidades de baixa renda.
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