Como módulos fotovoltaicos bifaciais podem aumentar a geração de uma usina solar?
Uso da tecnologia montada em rastreadores de um eixo domina o mercado de usinas de grande porte e de minigeração distribuída


A geração solar fotovoltaica está se tornando a tecnologia mais barata para a produção de eletricidade e isso está acontecendo mais rapidamente do que qualquer previsão feita pelas mais conceituadas consultorias especializadas. Como mostra a Figura 1 a seguir, já a partir de 2016 a tecnologia solar fotovoltaica passou a dominar a expansão do mercado de geração de energia elétrica, ultrapassando a fonte eólica em todo o mundo.
Esta tendência está se confirmando também no Brasil e vai se intensificar na medida em que (i) os custos da geração fotovoltaica continuam a diminuir, (ii) as preocupações ambientais relacionadas com a geração térmica utilizando combustíveis fósseis como carvão e gás natural continuam a aumentar e (iii) o reconhecimento da importância da independência energética em todo o mundo se evidencia cada vez mais.
Ao mesmo tempo, a eficiência e o rendimento dos geradores solares vêm aumentando e, especialmente nas usinas de grande porte e na minigeração distribuída (sistemas de até 5 MW), o uso de módulos fotovoltaicos bifaciais montados em rastreadores de um eixo já domina o mercado.
Nos módulos bifaciais as células fotovoltaicas bifaciais (que foram originalmente concebidas nos anos ’60) são normalmente montadas entre dois vidros (os chamados módulos vidro-vidro), o que confere ao laminado maior estanqueidade (este assunto já foi tratado em artigos anteriores e pode ser revisto aqui https://www.portalsolar.com.br/noticias/autor/prof-dr-ricardo-ruther).
Por isso os fabricantes também estão aumentando a garantia deste tipo de módulo para 30 anos. Quando expirou a patente da tecnologia PERC (Passivated Emitter and Rear Contact) e a grande maioria dos fabricantes adotou esta tecnologia, na qual as células fotovoltaicas já “nascem” bifaciais, o rendimento dos geradores fotovoltaicos em que a face de trás dos módulos “enxerga” bastante luz difusa aumentou.
Nos módulos bifaciais a potência nominal do módulo (potência de placa) é a potência medida apenas na face voltada para o sol. O rendimento da parte de trás, que fica na sombra, mas que recebe a reflexão do solo e toda a irradiância difusa do entorno, é um bônus em energia que vai ser maior ou menor dependendo da refletividade do solo e do entorno do gerador solar. A esta irradiância refletida se dá o nome de albedo.
De maneira geral o albedo pode ser definido como a proporcão da luz incidente ou irradiância refletida por uma superfície. A Norma Brasileira NBR 10899/2013 (de terminologia) da ABNT define albedo (GALB) como o “índice relativo à fração da irradiância solar, recebida em uma unidade de área, devido à refletância dos arredores e do solo onde está instalado um dispositivo”.
Assim, geradores fotovoltaicos utilizando módulos bifaciais e nos quais o albedo do solo e do entorno é elevado, tendem a um rendimento expressivamente maior do que o comumente obtido com módulos monofaciais montados no mesmo tipo de estrutura.
O conhecimento do albedo no local da usina é importante no dimensionamento de geradores fotovoltaicos no Brasil e em qualquer local onde se usam módulos bifaciais. A análise dos impactos e as consequências desses eventos tanto no dimensionamento como no desempenho operacional dos geradores fotovoltaicos vem sendo objeto de estudos diversos realizados no Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica/UFSC (www.fotovoltaica.ufsc.br) e alguns resultados podem ser encontrados no artigo listado a seguir.
No contexto de um projeto de P&D da ANEEL financiado pela empresa CTGBrasil (https://www.ctgbr.com.br), está sendo instalado no laboratório um experimento no qual se irá quantificar o efeito do albedo de diferentes coberturas de solo sob módulos bifaciais idênticos. As figuras abaixo ilustram bem a bancada de testes do Laboratório Fotovoltaica/UFSC (que será oficialmente inaugurada em 27 de maio/2022 durante o IX CBENS https://www.cbens.org.br).
Nesta bancada de testes, os módulos bifaciais idênticos foram montados em rastreadores de um eixo com acionamento monofileira autoalimentados, desenvolvidos e fornecidos pela empresa STI-Norland (https://www.portalsolar.com.br/noticias/negocios/empresas/sti-norland-brasil-lanca-novo-site-com-interatividade-e-realidade-virtual).
As figuras abaixo mostram quatro rastreadores idênticos, montados sobre quatro tipos diferentes de solo, todos utilizando o mesmo módulo fotovoltaico bifacial da mais recente tecnologia (módulo PERC de >3m2 de área por unidade e 645Wp de potência unitária, com meias-células bifaciais M12 de 210 mm).
O experimento também conta com uma estação de medição de albedo (a circunferência mostrada na parte mais central das imagens abaixo), com albedômetros montados na horizontal e no plano inclinado, bem como células de referência montadas na frente e nas costas dos rastreadores de um eixo, para medir a irradiância incidente nas faces frontal e traseira dos módulos bifaciais.
O experimento irá medir o desempenho dos quatro geradores independentes (cada um está conectado a um inversor independente, todos idênticos) por pelo menos 12 meses e os resultados, que são muito importantes para a quantificação do albedo e expectativa de desempenho de geradores bifaciais, serão mostrados nesta coluna no próximo ano.
Este projeto ilustra muito bem a importância do programa de P&D da ANEEL, que tem por objetivos a capacitação de recursos humanos nos diversos assuntos relacionados com a geração de energia solar no Brasil, bem como o desenvolvimento de técnicas e o acúmulo de experiências e conhecimentos no desempenho dos geradores fotovoltaicos que começam a ocupar papel importante na matriz energética de nosso país. A tendência de crescimento da geração solar no mundo, ilustrada pela figura 1, está caminhando na mesma direção no Brasil.
Sobre o autor: Ricardo Ruther é professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), doutorado em Electrical and Electronic Engineering - The University of Western Australia (UWA-1995) e pós-doutorado em Sistemas Solares Fotovoltaicos realizado no Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems na Alemanha (Fraunhofer ISE-1996) e na The University of Western Australia (UWA-2011). Atualmente é coordenador do Laboratório FOTOVOLTAICA/UFSC (Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq).

Prof. Dr. Ricardo Rüther
Professor Titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com graduação em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-1988), mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-1991), doutorado em Electrical and Electronic Engineering - The University of Western Australia (UWA-1995) e pós-doutorado em Sistemas Solares Fotovoltaicos realizado no Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems na Alemanha (Fraunhofer ISE-1996) e na The University of Western Australia (UWA-2011). Atualmente é coordenador do Laboratório FOTOVOLTAICA/UFSC (Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq).
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