O papel da universidade pública no desenvolvimento de estudos e pesquisas para o avanço do setor solar no Brasil
Como as instituições de ensino abriram caminho para a tecnologia fotovoltaica no País


Foi nas universidades públicas que os primeiros geradores solares fotovoltaicos integrados a edificações urbanas e conectados à rede elétrica pública foram instalados no final dos anos 1990 no Brasil. No laboratório de energia solar Fotovoltaica/UFSC da Universidade Federal de Santa Catarina (www.fotovoltaica.ufsc.br) se instalou o primeiro em setembro de 1997 e menos de um ano depois foi inaugurado o segundo no Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos LSF/USP da Universidade de São Paulo (http://lsf.iee.usp.br). Depois disso vários outros se seguiram, tudo isso enquanto a energia solar fotovoltaica ainda não era economicamente competitiva e muito antes de ser permitido para o consumidor residencial, comercial, industrial ou público conectar na rede elétrica da distribuidora um gerador solar fotovoltaico. Eram todos projetos de pesquisa e desenvolvimento, que obtiveram uma permissão especial da distribuidora de energia local para serem conectados na rede elétrica pública.
Estes geradores solares, que continuam em operação até hoje, são completamente monitorados e geraram muita informação acerca do projeto, operação e manutenção destas miniusinas de geração distribuída. Serviram também para capacitar recursos humanos nesta nova aplicação da tecnologia solar no Brasil e renderam muitas publicações científicas reportando o desempenho de geradores fotovoltaicos nos climas quentes e ensolarados do Brasil. Estes geradores solares foram instalados 15 anos antes da publicação da Resolução Normativa 482/2012 da ANEEL, que permitiu a conexão à rede elétrica pública da geração distribuída no Brasil e foram eles que permitiram aos professores Ricardo Rüther da UFSC e Roberto Zilles da USP contribuir com essas experiências no Grupo de Trabalho instituído em 2010 pelo Ministério das Minas e Energia (Grupo de Trabalho – Geração Distribuída com Sistemas Fotovoltaicos (GTGDSF) que culminou com a publicação pela ANEEL da RN 482/2012.
Ao longo das duas últimas décadas, formaram-se nos laboratórios de institutos e universidades públicas custeadas com recursos públicos como INPE, UFAM, UFC, UFPA, UFPE, UFMG, UFRGS, UFRJ, UFRN, UFSC, UnB, UNESP, UNIFESP, USP e algumas privadas como PUC-RS, PUC-Minas, PUC-Rio, Unisinos (que também receberam investimentos de recursos públicos), boa parte do contingente de profissionais bem treinados de que o Brasil hoje dispõe para atender ao crescente mercado da energia solar fotovoltaica no país. A publicação dos resultados das pesquisas desenvolvidas nestas instituições tem também contribuído com o avanço científico.
Em 2015 o Laboratório Fotovoltaica/UFSC inaugurou seu novo Centro de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar Fotovoltaica, ilustrado pela imagem a seguir. Este moderno laboratório foi financiado com recursos públicos da extinta Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social – SECIS, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI. A infraestrutura básica do laboratório, assim como a da maioria dos outros laboratórios de instituições públicas anteriormente mencionados, foi complementada com equipamentos e instalações financiadas por outro mecanismo público de financiamento, o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica, P&D-ANEEL. Através deste programa de P&D, o laboratório Fotovoltaica/UFSC pôde adquirir equipamentos sofisticados para a realização de suas pesquisas, através de projetos contratados com as empresas de energia que são obrigadas por lei a investir uma fração de sua renda operacional líquida em projetos que resultem no desenvolvimento científico e tecnológico da aplicação da energia solar no país.
Foi um destes projetos que permitiu a instalação de geradores fotovoltaicos, estações solarimétricas e complexos sistemas de aquisição de dados em distintos climas por todo o Brasil. Estes equipamentos registram dados medidos com resolução temporal de 1 segundo, que serão detalhados no próximo artigo. As estações solarimétricas de alta resolução levaram à identificação e quantificação de eventos de sobreirradiância de longa duração, que estão interferindo no desempenho, operação e manutenção de geradores fotovoltaicos espalhados por todo o território nacional. A chegada dos módulos solares fotovoltaicos bifaciais, que também serão tratados em outro artigo em breve, trouxe a necessidade de novos investimentos em equipamentos para a medição da refletividade do solo e arredores (que se chama albedo). Os estudos de albedo e os ganhos de produtividade calculados pelos softwares de dimensionamento e expectativa de desempenho de geradores fotovoltaicos irão revelar informações importantes e características de cada local. Assim, a expectativa de desempenho dos geradores fotovoltaicos poderá ser calibrada a partir de dados medidos e validada para distintos locais por todo o Brasil.
A chegada dos sistemas de armazenamento de energia, principalmente em baterias de íons de lítio, e dos carros elétricos, que também usam este tipo de bateria, trazem novos assuntos para a pesquisa científica e tecnológica desenvolvida nas instituições públicas brasileiras. Com a expectativa de redução de custos destas duas tecnologias, o mercado brasileiro as adotará rapidamente e em grande escala, demandando recursos humanos capacitados e bem treinados, que entendam e possam extrair destas tecnologias o máximo de benefícios. A sinergia entre a mobilidade elétrica - o reuso das baterias descartadas dos veículos elétricos em aplicações estacionárias (segunda-vida das baterias de lítio) - e a geração solar fotovoltaica é tamanha que se pode afirmar que a nova energia que vai ser necessário gerar para atender à mobilidade elétrica pode ser 100% gerada a partir de sistemas solares fotovoltaicos. A área ocupada por um veículo é tipicamente suficiente para que um estacionamento solar gere em sua cobertura toda a energia requerida pelo carro elétrico estacionado sob sua sombra.
Tudo isso e mais vem sendo estudado e desenvolvido nas universidades públicas brasileiras e será tema dos próximos artigos.
*Ricardo Rüther é Professor Titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com graduação em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-1988), mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-1991), doutorado em Electrical and Electronic Engineering - The University of Western Australia (UWA-1995) e pós-doutorado em Sistemas Solares Fotovoltaicos realizado no Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems na Alemanha (Fraunhofer ISE-1996) e na The University of Western Australia (UWA-2011). Atualmente é coordenador do Laboratório FOTOVOLTAICA/UFSC (Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq).

Prof. Dr. Ricardo Rüther
Professor Titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com graduação em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-1988), mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS-1991), doutorado em Electrical and Electronic Engineering - The University of Western Australia (UWA-1995) e pós-doutorado em Sistemas Solares Fotovoltaicos realizado no Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems na Alemanha (Fraunhofer ISE-1996) e na The University of Western Australia (UWA-2011). Atualmente é coordenador do Laboratório FOTOVOLTAICA/UFSC (Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq).
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