Carros elétricos impulsionam demanda por energia solar
Metas de redução de combustíveis fósseis estimula a produção desses veículos no mundo e por consequência eleva interesse pela tecnologia fotovoltaica


O cerco ao carro a gasolina ou a diesel por conta dos feitos nocivos ao meio ambiente está impulsionando a produção de carros elétricos no mundo. Esse crescimento também impulsiona o mercado de energia solar, conectado ao desenvolvimento do setor de mobilidade, sobretudo pela gama de carregador e gerador solar fotovoltaico para os novos carros elétricos.
No Brasil, em 2030, segundo a Boston Consulting Group (BCG), os carros elétricos vão representar 5% da frota brasileira, com vendas de 180 mil unidades ao ano. Miguel Setas, CEO da EDP Brasil destaca que como o Brasil é muito grande, qualquer porcentagem é muita coisa. “Somente a fatia de 5% do mercado já representa 2 milhões de carros e cerca de 400 mil pontos de carregamento, incluindo postos de abastecimento e, principalmente, sistemas de carregamento residenciais integrados a baterias ou geradores de energia solar”, avalia.
A Tesla já comercializa no mercado americano esse tipo de bateria integrada a energia solar. Apesar de um automóvel elétrico fazer a conta de luz disparar, o gasto com o abastecimento do carro é 25% inferior ao de um veículo a combustão.
Além do setor solar, o carro elétrico impulsiona a mobilidade elétrica. Para Nuno Pinto, chefe de Negócios B2C e Mobilidade Elétrica da EDP Smart, é possível equipar uma residência com um powerwall e entrar para o smart grid – ora consumidor, ora fornecedor de energia para a cidade. “Com a criação de um potencial de consumo adicional de 11TWh de eletricidade, a mobilidade elétrica tem o que demandará um investimento em infraestrutura de R$ 33 bilhões até 2030”, apontou.
A gasolina e o diesel ainda movem cerca de 90% dos novos carros vendidos no mundo. Mas o mundo já caminha para zerar a produção de combustíveis a gasolina ou a diesel. Segundo estudo do Boston Consulting Group (BCG), a soma de modelos elétricos e híbridos passarão dos atuais 10% para 51% das vendas globais em uma década. O estudo foi realizado antes da pandemia, que deve acelerar projetos de carbono zero.
No mês passado, a Inglaterra anunciou a antecipação, para 2030, da proibição de venda de novos carros movidos a gasolina ou diesel. O Japão também deve anunciar em breve uma proibição parecida, que entraria em vigor em meados de 2030. A China prevê colocar em vigor essa regra em 2035. Nos Estados Unidos, o Estado da Califórnia informou em setembro que, também a partir de 2035, veículos novos movidos a gasolina ou diesel estarão fora do mercado. “O cerco está se fechando para que os países reduzam o uso de combustível fóssil”, diz Jaime Andrade, sócio da PwC Brasil.
Por aqui, na avaliação de Viviana Coelho, gerente executiva de mudanças climáticas da Petrobrás, a tendência é que a transição energética para uma economia sem emissões de gases efeito estufa não será rápida. “O petróleo ainda terá espaço por muitas décadas para produtores eficientes. Há mais de uma década a Petrobrás tem a transição energética no radar, com perfeita consciência da tendência de redução da demanda e do preço do seu principal produto, o petróleo. Mas, neste momento, vamos continuar apostando no petróleo focado apenas a projetos resilientes ao novo cenário de preços baixos”, explicou.
Ela acrescenta que em todos os cenários da Agência Internacional de Energia, é observado a desaceleração do consumo do petróleo, e eventualmente, em algum momento, uma retração nesse mercado. “Não trabalhamos com uma data específica para o pico (do petróleo), o que fazemos é tentar ter um portfólio resiliente até para o pior caso. Trabalhamos com curva do preço do petróleo, e este ano revisamos essa curva, o que exige que nossos projetos tenham uma perspectiva de resiliência a US$ 35 (por barril)”, explica. Ela destaca que até os cenários mais agressivos mantêm o petróleo ainda por duas ou três décadas, com demanda significativa em 2040.
Recentemente, a NextEra, uma das maiores geradoras globais de energia solar e eólica, chegou a ultrapassar, em valor de mercado, a petroleira ExxonMobil, maior empresa privada do mundo. No mesmo caminho, a fabricante de carros elétricos Tesla está valendo mais que a Toyota, Volkswagen, GM, Ford e Fiat Chrysler – empresas em que o carro movido a combustível fóssil ainda é majoritário.
Para que de fato essa transição aconteça, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, defende que o governo brasileiro deve correr para monetizar de forma rápida os ativos que estão debaixo do mar – o petróleo do pré-sal, antes que seja tarde. No entanto, a velocidade de troca dos carros a gasolina e diesel por elétricos no Brasil não será igual à da Europa.

Adriana Dorante
Jornalista formada pela Universidade Santa Cecília (Santos), com especialização em jornalismo econômico pela PUC/SP. Trabalhou como repórter de economia em grandes veículos de Comunicação, como DCI e jornais regionais em Campinas. Realizou trabalhos em comunicação institucional (publicações impressas e digitais) e assessoria de imprensa para entidades e empresas de diferentes segmentos em São Paulo. Atua na cobertura jornalística do setor elétrico há cerca de 5 anos.
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