Pesquisadores suíços desenvolvem lavanderia autossuficiente em água e energia

Pesquisadores suíços desenvolveram uma lavanderia autossuficiente em água e energia para resolver o problema da escassez de água na África do Sul, nomeada de LaundReCycle. Trata-se de um container com máquina de lavar que não requer água doce ou conexão de águas residuais e, portanto, ideal para a situação de baixo recursos hídricos no território africano. A usina é operada com energia fotovoltaica combinada com uma bateria de armazenamento, que garante suprimento quando não há incidência solar suficiente.

Liderado pela suíça Devi Bühler, cientista do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW, na sigla em alemão), o protótipo funciona nas instalações da universidade, em Wädenswil, com a ajuda do governo suíço que deve investir um total de 300 mil francos suíços no projeto.

"Após a lavagem da roupa com água fresca, as águas residuais vão para um tanque e são limpas em duas etapas: a limpeza físico-mecânica e a biológica, e uma limpeza utilizando microorganismos no filtro. Elas também são desinfetadas com uma lâmpada de ultravioleta, e depois são utilizadas para o próximo ciclo de lavagem", explica Bühler.

Saiba mais sobre a energia mecânica

Apesar de 30% da água ainda ser perdida por ciclo de lavagem, essa porcentagem é recuperada com a água da chuva coletada. A Cidade do Cabo será a primeira a receber a lavanderia com o apoio de um empresário sul-africano. Uma ONG fornecerá um lote de terreno onde operará a lavanderia, e criará dessa forma novos empregos.

A pesquisadora destaca que o objetivo é desenvolver a lavanderia em uma solução comercializável na África do Sul e quem sabe, fundar subsidiárias. "A ideia é basicamente escalável e se funcionar com sucesso, a ONG poderia operar várias lavanderias desse tipo. Por um lado, em assentamentos informais fora da Cidade do Cabo, por outro, no centro da cidade, para os sem-teto.”

Pesquisadores da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul trabalham em conjunto com Devi Bühler para analisar amostras de água da lavanderia em seu laboratório. O objetivo é verificar se o serviço de limpeza funciona no local e se a água reciclada pode ser reutilizada sem nenhum problema.

“Em nossos testes pilotos na Suíça com roupas brancas não houve descoloração, mas este ponto deve ser ainda mais pesquisado e melhorado na empresa piloto na Cidade do Cabo.

Como o sol raramente aparece no inverno, a invenção de Devi Bühler é limitada para utilização na Suíça. Neste caso, a bateria solar teria que ser muito grande para garantir uma operação completamente autossuficiente em termos de energia.

A ideia surgiu num hotel onde Devi Bühler se hospedou para participar da Cúpula de Inovação, na Cidade do Cabo, onde solicitava para que os hóspedes tomassem banho o menos possível e que não jogassem as toalhas na roupa suja. Justamente, a pesquisadora viajava com a delegação da Embaixada da Suíça para discutir na Cúpula, a crise da água. "O fato de eu ter visto in loco quais eram os problemas me motivaram enormemente", diz Bühler.

Durante sua estadia na cidade, ela observou assentamentos informais sem abastecimento de água e com um fornecimento de energia instável. “A maioria das pessoas lava suas roupas à mão, transformando essa situação um mini negócio”, constatou.

Considerado um dos países mais secos do mundo, a África do Sul ainda é vítima das mudanças climáticas, do crescimento populacional e dos problemas com a agricultura. Na Cidade do Cabo, estiagens provocaram escassez de água a partir de 2015, levando o governo a declarar estado de calamidade. A situação conseguiu ser controlada até 2019, após duras restrições. Mas o problema da água está longe de ser solucionado.