Aneel dá um dia para transmissora explicar falhas nos bipolos de Belo Monte
ONS confirmou que a perda temporária dos dois sistemas causou a interrupção de 4 GW de geração da hidrelétrica


A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) enviou um ofício à Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE) pedindo explicações sobre a ocorrência no 1º bipolo do sistema de transmissão da usina de Belo Monte - que resultou em um corte de carga no Sistema Interligado Nacional de 3,4 mil MW pelo período de 20 minutos. No ofício, o regulador concedeu o prazo de um dia, a contar do recebimento do documento, para a concessionária apresentar esclarecimentos acerca da “ocorrência e as medidas que estão sendo adotadas para solucionar o problema e evitar a reincidências dos acontecimentos.”
A primeira ocorrência no sistema a de transmissão Norte/Sudeste ocorreu às 11h06 de sexta-feira (28/5), quando o Polo 1 Xingu/Estreito foi desligado sem qualquer tipo de programação. Quando o evento ocorreu, a carga no Sistema Interligado Nacional (SIN) estava com 74.238 MW médios e despencou para 71.114 MW médios por alguns minutos. O Portal Solar apurou que algumas distribuidoras das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste foram afetadas, de acordo com respostas oficiais de empresas dos grupos CPFL Energia, EDP, Enel Brasil e Neoenergia.
Em comunicado enviado à imprensa na noite de sexta-feira (28), o Operador Nacional do Sistema (ONS) confirmou que comandou um corte de carga para evitar maiores impactos ao SIN, após o desligamento repentino do primeiro Bipolo, que resultou na atuação do Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC).
Saiba mais: ONS realiza corte de carga elétrica e distribuidoras são afetadas em diversas regiões do País
"Com o objetivo de evitar sobrecarga no Elo CC 800 kV Xingu/Terminal Rio, um Sistema Especial de Proteção (SEP) atuou, comandando o desligamento de sete unidades geradoras da usina hidrelétrica de Belo Monte, com interrupção de aproximadamente 4.050 MW de geração. Ao identificar uma variação de frequência no sistema, o Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC) cortou 3.400 MW de carga, atingindo várias localidades, para evitar maiores reflexos no SIN", declarou o Operador em nota à imprensa.
Ainda de acordo com o ONS, às 11h45 todas as cargas do SIN já estavam regularizadas. Às 12h21 houve o desbloqueio dos Polos 1 e 2 do Elo CC 800kV Xingu/Estreito, após avaliações e liberações do agente BMTE. “O ONS reitera que, assim que identificou o problema, atuou prontamente para restabelecer o mais rápido possível o fornecimento de energia. O ONS avaliará as causas da ocorrência junto aos agentes envolvidos e, posteriormente, fará um Relatório de Análise da Perturbação (RAP)", completou.
Quem é a BMTE?
A BMTE é uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) constituída em 20 de março de 2014 e é controlada pela gigante chinesa State Grid Brazil Holding, que tem duas empresas estatais como sócias: Funas e Eletronorte, ambas do grupo Eletrobras.
A SPE foi formada para construir, operar e manter a linha de transmissão (LT) 800 kV CC Xingu/Estreito e instalações associadas. Essa LT é o primeiro de dois bipolos de corrente contínua (CC) que transporta a energia gerada pela polêmica hidrelétrica Belo Monte para a região Sudeste. Com mais de 2.000 km de extensão, atravessa 65 municípios de quatro estados: Pará, Tocantins, Goiás e Minas Gerais.
Em 2020, segundo relatório financeiro auditado pela PwC, a empresa apresentou um crescimento de 17,40% no lucro líquido na comparação com 2019, passando de R$ 243 milhões para R$ 294,2 milhões.
O segundo bipolo Xingu-Rio, porém, é 100% de propriedade da State Grid Brazil. Com extensão de 2.539 quilômetros, o sistema passa pelos estados do Pará, Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro e é composta por uma linha de transmissão de ±800kV e duas estações conversoras, com capacidade de transmissão de 4.000 MW.

Wagner Freire
Jornalista com Bacharel em Comunicação Social pela FMU e pós-graduado em Finanças. Especialista com mais de 10 anos de experiência na cobertura do mercado de energia elétrica, tendo trabalhado no Estadão, CanalEnergia, Jornal da Energia, Revista GTD e DCI.
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