Brasil é líder de descarbonização entre os países do G20
Fontes eólica e solar atingiram participação combinada de 13% na geração elétrica das nações do grupo, mostra pesquisa da Ember


O Brasil, que sediará o G20 no próximo ano, tem a maior parcela de eletricidade limpa do G20. Em 2022, o País gerou 89% de sua eletricidade a partir de fontes limpas, o que inclui 63% de energia hidrelétrica, 12% de energia eólica e 3% de energia solar. Os combustíveis fósseis foram responsáveis por 11% da geração do Brasil em 2022, sendo a maior parte de gás (7%).
Os dados são da quarta edição anual da Global Electricity Review, publicada pelo think tank de energia Ember. Ainda de acordo com a análise, a Índia, atual anfitriã, está muito mais atrasada na descarbonização de seu sistema de eletricidade. O país tem a segunda maior dependência de carvão, depois da África do Sul, mas já está obtendo 9% de sua eletricidade a partir de energia solar e eólica.
Para o Diretor de Insights de dados da Ember, Dave Jones, o Brasil possui um potencial muito maior que a Índia de garantir uma matriz elétrica limpa:
“A Índia está se destacando na energia solar, com a geração crescendo 45 vezes na última década para atingir 5% de sua energia em 2022. O Brasil teve uma vantagem inicial com uma forte base em energia hidrelétrica, mas não descansou, com um crescimento realmente impressionante em energia eólica, que cresceu 16 vezes na última década e atingiu 12% de sua energia em 2022.”
Os dados indicam que, nos países do G20, as energias eólica e solar atingiram uma participação combinada de 13% da eletricidade em 2022, em comparação com 5% em 2015. Nesse período, a participação da energia solar quadruplicou e da energia eólica dobrou.
Como resultado, a energia a carvão caiu de 43% da eletricidade do G20 em 2015 para 39% em 2022. As participações de outras fontes de eletricidade permaneceram praticamente estáveis, com flutuações de apenas 1 a 2 pontos percentuais.
De acordo com o IPCC, a energia eólica e solar pode proporcionar mais de um terço dos cortes de emissões necessários em 2030 para limitar o aquecimento global a 1,5 grau. Metade dessas reduções de emissões provenientes da energia eólica e solar economizam dinheiro em comparação com o cenário de referência.
Em todo o G20, o progresso em direção à energia eólica e solar é misto. Os líderes são a Alemanha (32%), o Reino Unido (29%) e a Austrália (25%).
A Turquia, o Brasil, os EUA e a China têm se mantido consistentemente acima da média global. Na parte inferior da lista estão a Rússia, a Indonésia e a Arábia Saudita, com quase zero de energia eólica e solar em seu mix.
A Arábia Saudita se destaca com quase 100% de sua eletricidade proveniente de petróleo e gás. A África do Sul (86%), a Indonésia (82%) e a Índia (77%) são os próximos países mais dependentes da geração de energia fóssil - predominantemente carvão.
Países da OCDE aceleram a eliminação gradual do carvão
Entre os países da OCDE do G20, que possuem a meta de eliminação gradual do carvão até 2030, houve uma redução de 42% na geração de carvão em termos absolutos, de 2.624 TWh em 2015 para 1.855 TWh em 2022.
O declínio mais rápido na energia a carvão no G20 foi alcançado pelo Reino Unido, que reduziu sua geração de carvão em 93% desde a assinatura do Acordo de Paris, caindo de 23% da eletricidade em 2015 para apenas 2% em 2022.
A Itália reduziu pela metade sua energia a carvão no mesmo período, enquanto os Estados Unidos e a Alemanha reduziram sua energia a carvão em cerca de um terço. Até mesmo a Austrália, dependente do carvão, reduziu sua parcela de energia a carvão de 64% em 2015 para 47% em 2022.
Entre as economias avançadas do G20, o Japão se destaca por ainda não ter reduzido sua parcela de energia a carvão, que continua sendo cerca de um terço de sua eletricidade.
O crescimento da geração eólica e solar tem sido um fator fundamental para o sucesso desses países da OCDE na redução da energia a carvão. O Reino Unido e a Alemanha se destacam com as maiores participações de energia eólica, com 25% e 22% em 2022, enquanto a Austrália e o Japão estão no topo do G20 em termos de participação de energia solar, com 13% e 10% em 2022.
Para alcançar a meta, será necessário que os países do G20 acelerem seu progresso com a energia limpa. De acordo com o IPCC, a energia global ininterrupta do carvão precisa cair 87% nesta década, de 10.059 terawatts-hora (TWh) em 2021 para 1.153 TWh em 2030.
Emissões de carvão
Apenas cinco países do G20 registraram aumento do carvão em termos absolutos desde 2015: China (+34%, +1374 TWh), Índia (+35%, +357 TWh), Indonésia (+52%, +65 TWh), Rússia (+31%, +47 TWh) e Turquia (+50%, +37 TWh). Entre esses países, a China e a Índia conseguiram reduzir a participação percentual do carvão nesse período, pois se concentram no aumento da energia eólica e solar para atender à crescente demanda.
A China gerou 70% de sua eletricidade a partir do carvão em 2015, reduzindo-a para 61% em 2022. A Índia obteve um declínio menor, de 76% da eletricidade proveniente do carvão em 2015 para 74% em 2022. No entanto, a Indonésia, a Rússia e a Turquia viram sua parcela de energia a carvão aumentar.
Há sinais de que esses países estão se aproximando do "pico" de emissões de carvão, pois a energia limpa está perto de crescer com rapidez suficiente para atender a todo o crescimento da demanda. Na China, as energias eólica e solar atenderam a 69% do crescimento da demanda de eletricidade em 2022, enquanto todas as fontes limpas atenderam a 77%.
Mais da metade do aumento da demanda de eletricidade na Ásia (52%) foi atendida com eletricidade limpa nos sete anos de 2015 a 2022, o dobro dos 26% alcançados nos sete anos anteriores. O pico de emissões é o primeiro passo; a rapidez com que a redução gradual dos combustíveis fósseis ocorrerá dependerá das ações tomadas pelos governos para acelerar a implantação de energia eólica e solar.
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Emily Moura
Jornalista formada pela PUC-SP. Possui experiência nas áreas de jornalismo financeiro, econômico, tecnológico e de entretenimento.
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