Ex-Tarifário deve ser aplicado de forma criteriosa para facilitar importações sem prejudicar indústria nacional
Para a consultoria FI Group, governo deve fazer esse controle por meio da consulta pública e avaliar as contestações


O Ex-Tarifário, mecanismo de redução no imposto de importação para produtos sem fabricação no país, é um instrumento importante para tornar acessível produtos de valor agregado sem fabricação local, mas deve observar critérios para não trazer prejuízos à indústria nacional, avalia a consultoria FI Group. A empresa, especializada em incentivos fiscais, entende que as análises de governo têm sido justas e fabricantes que se sintam prejudicados têm condições de revogar itens erroneamente contemplados.
“Entendemos que é um instrumento importante, que corrige a dificuldade de importação de equipamentos sem produção nacional, em função de uma alíquota alta. Isso precisa ser feito de forma cuidadosa, porque gera efeitos para quem fabrica no Brasil”, declarou o diretor de relações institucionais do FI Group, Raphael Telles, em entrevista ao Portal Solar.
No final de julho, a Câmara do Comércio Exterior (Camex), publicou uma decisão de reduzir o valor das alíquotas de imposto de importação para equipamentos fotovoltaicos. Ao todo, foram incluídos mais de 100 Ex-Tarifários relacionados a módulos solares, inversores, trackers e motobombas. A medida entrou em vigor em1° de agosto e será válida até o final de 2021.
“Houve algumas reclamações de empresas nacionais que alegam fabricar alguns dos produtos listados. O governo deve fazer esse controle, por meio da consulta pública e avaliar as contestações”, afirma Telles. “Entendemos que a análise do governo tem sido justa, quando é comprovado que existe fabricação local, não é concedido o Ex-Tarifário. Ou caso seja, a empresa consegue derrubar por meio de um pedido de revogação.”
Ele acredita que o mecanismo é importante, especialmente em um momento de grande valorização do dólar frente ao real, e que inclusive pode beneficiar fabricantes do setor. “Dificilmente uma empresa que tem intenção de produzir no país muda de estratégia em função do Ex-Tarifário. Algumas delas, que já fabricam o equipamento, importam e acabam utilizando esse instrumento para testar o mercado.”
“Mas também existe o movimento de empresas importadoras que à vezes fazem o pedido, mesmo tendo similar nacional, contando que ninguém irá verificar. Preocupa pelo impacto para as fabricantes que não viram a consulta pública e desconhecem o procedimento”, ressalta o especialista.
“Empresas nacionais também reclamam que para contestar um Ex-Tarifário é necessário provar que já vendeu exatamente aquele produto, mas em um setor de equipamentos customizados, esse processo fica dificultado, no caso de um item similar, mas não idêntico. O setor de energia solar pode ter esse problema”, alerta.
Ele também destaca o caráter pontual da medida. “Não é uma política de longo prazo, não é esse o objetivo do Ex-Tarifário. Seria um risco para a empresa importadora, pois pode ser contestado a qualquer momento. É exigida comprovação da compra daquele produto específico. Normalmente pedido pela isenção é feito para algo que já foi comprado, não como política ou estratégia tributária do negócio.”
Telles vê prazo até 2021 como positivo para não acomodar os importadores e nortear a indústria nacional. “O fabricante consegue verificar a demanda de mercado para aquele produto no país tem tempo para se programar. O roteiro da concessão do Ex-Tarifário tem que ser bem seguido para criar insegurança para essa indústria nova, importante e com enorme potencial.”

Ricardo Casarin
Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.
Artigos que podem te interessar

A Muralha Regulatória que Protege o Sol: Como a ABNT e o CONFAZ Blindam o Setor Fotovoltaico contra o Casualismo Fiscal
O Brasil vive um paradoxo solar. Enquanto o país celebra recordes de instalação de energia fotovoltaica, impulsionado por uma matriz energética que se orgulha de sua crescente sustentabilidade, uma sombra de instabilidade jurídica
08/12/20253 min de leitura

PLP 182/2025: A tempestade tributária que pode afogar a energia solar brasileira
O governo federal está revivendo uma proposta que há 20 anos causou uma das maiores revoltas do setor produtivo brasileiro. O PLP 182/2025 traz de volta o espírito da famigerada MP 232 de 2004, conhecida como "tsunami tributário".
28/11/202510 min de leitura

A Lei 15.269 e o gosto amargo da insegurança jurídica
A sanção da Lei nº 15.269/2025, originada da Medida Provisória 1.304, deveria ser um momento de celebração para o setor elétrico brasileiro. E, em muitos aspectos, ela representa um avanço inegável.
26/11/20254 min de leitura
Reforma do setor elétrico é sancionada e convertida na Lei 15.269/2025
Texto final da MP 1.304 incluiu abertura do mercado livre e regulamentação do armazenamento de energia; ressarcimento por cortes de geração foi vetado
25/11/20256 min de leitura
Acordo final da COP30 omite menção a combustíveis fósseis
Conferência teve como principal resultado compromisso de mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano para ações climáticas
24/11/20252 min de leitura

Segurança jurídica na geração distribuída: a análise da motivação no desmembramento de usinas
Decisões subjetivas das distribuidoras sobre divisão de usinas criam insegurança jurídica e prejudicam investimentos em energia.
18/11/20257 min de leitura
Vetos à MP 1.304 podem comprometer investimentos em renováveis no Brasil
Absolar alerta que retirar a possibilidade de compensação às usinas afetadas por cortes de geração reduzirá atratividade de grandes projetos no país
17/11/20253 min de leitura
MP 1.304: entenda como será a abertura do mercado livre de energia
Aprovada pelo Congresso, reforma do setor elétrico permitirá adesão de todos os consumidores do país ao Ambiente de Contratação Livre (ACL)
12/11/20252 min de leitura