Contratação de térmicas afasta setor elétrico do objetivo de reduzir emissões
IEMA aponta que usinas movidas a combustíveis fósseis foram priorizadas no Leilão de Reserva de Capacidade


Ao priorizar usinas movidas a combustíveis fósseis no Leilão de Reserva de Capacidade, realizado em 21 de dezembro, o sistema elétrico brasileiro se afasta do objetivo global de redução de gases de efeito estufa (GEE), alerta o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). As usinas vencedoras irão operar pelo menos até o fim do prazo contratual de 15 anos estipulado neste leilão.
No certame, realizado para a contratação de energia e potência a serem entregues ao sistema em 2026 e 2027, as termelétricas a gás natural foram as mais contratadas, com nove projetos totalizando 3.499 MW a preços entre R$ 487 e 881 mil MW/ano, seguidas pelas termelétricas a óleo combustível com cinco projetos (761 MW) entre R$ 872 mil e 879 mil MW/ano.
Também foram contratadas duas usinas a óleo diesel, totalizando 99 MW de potência injetada a preços de R$596 mil e R$635 mil MW/ano. Anualmente, as 16 usinas fósseis ganhadoras do certame emitirão um total de 1,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). Esse valor corresponde a 4% das emissões de todo setor elétrico em 2020, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
O IEMA ainda destacou que a queima de combustíveis para produção de eletricidade emite poluentes atmosféricos prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente, como é o caso do material particulado (MP) e dos óxidos de nitrogênio (NOx).
Outro impacto importante é o alto volume de água que usinas termelétricas podem demandar em seus sistemas de resfriamento que são, em sua maioria, refrigerados por meio de água captada do oceano ou de bacias interiores.
Entre as usinas contratadas, três utilizam resfriamento a águas interiores. O estresse hídrico local deve ser um motivo de atenção quando usinas utilizam captação de água doce em seus sistemas de resfriamento, uma vez que grande parte dessa água captada evapora e não retorna para a bacia de origem.
Participação com liminares
O leilão contratou uma potência injetada de 4.431 MW, representando uma garantia física de 463,8 MWmed. As termelétricas a combustíveis fósseis, a fonte com maior volume cadastrado (31,9 GW), tiveram uma contratação significativa de 4.358,6 MW de potência injetada e 408,1 MWm em termos de garantia física. Complementando o certame, um projeto a bagaço de cana foi contratado a um preço médio de R$ 877,3 MW/ano.
O IEMA ressaltou que as usinas a óleo combustível e diesel participaram do leilão por meio de liminar, com custo de operação acima do limite especificado e poderão ser excluídas, abrindo espaço para a contratação de novos projetos.
“Apesar da contratação de uma térmica a biomassa, a competição deveria ter sido aberta à participação de todas as fontes renováveis. Tais fontes poderiam ter contribuído ao produto energia - que não fez nenhuma contratação - ou também ao produto potência, em arranjo híbrido ou com o apoio de sistemas de armazenamento”, avaliou o instituto.

Ricardo Casarin
Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.
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