Mercado de energia solar vislumbra cenário mais favorável no Brasil em 2024

Equipamentos mais baratos, juros menores e aumentos nas tarifas podem beneficiar a geração distribuída; oferta de crédito e inversão de fluxo são os maiores desafios

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A combinação de aumentos nas tarifas de energia, queda no preço de equipamentos fotovoltaicos e redução de juros pode resultar em um cenário favorável para o mercado de energia solar brasileiro em 2024. Oferta de crédito e regulamentação sobre inversão de fluxo devem ser os maiores desafios para o setor no próximo ano.

Na terça-feira (05/12), a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) divulgou projeção de acréscimo de 9,3 GW em capacidade instalada em 2024. Dessa forma, a fonte atingiria 45,5 GW de potência acumulada no país ao final do ano.

Desse total, 31 GW serão provenientes da geração distribuída, segmento formado por pequenos e médios sistemas, enquanto 14,4 GW estarão na geração centralizada, mercado formado por grandes usinas solares.

Segundo a avaliação da entidade, os novos investimentos gerados pelo setor fotovoltaico poderão ultrapassar a cifra de R$ 38,9 bilhões em 2024, com mais de 281,6 mil novos empregos e uma arrecadação extra de mais de R$ 11,7 bilhões aos cofres públicos.

Oportunidades e desafios

Também na terça-feira, durante o Encontro Nacional Absolar, realizado em São Paulo (SP), o CEO da entidade, Rodrigo Sauaia, declarou que o desempenho do mercado de energia solar, especialmente o de geração distribuída, dependerá de fatores macroeconômicos e da resolução de questões regulatórias.

"São fatores que influenciam o acesso ao crédito, como a taxa básica de juros e o nível de endividamento do nosso país. Também dependerá muito do que vai acontecer do ponto de vista da regulamentação, especialmente em relação ao artigo 73 da Resolução 1.000 da Aneel, que precisa ser corrigido”, disse Sauaia.

A Resolução Normativa n° 1.000/2021 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) consolida as principais regras a prestação do serviço público de distribuição de energia elétrica. O artigo 73 dispõe sobre a inversão de fluxo, evento que ocorre quando a energia injetada pelo sistema fotovoltaico ultrapassa a demanda da rede elétrica.

Conforme Sauaia, muitas distribuidoras estão usando esse argumento para negar acesso aos consumidores, sem apresentar estudos técnicos ou cumprir o que é estabelecido pela regulamentação. “Temos trabalhado para o aprimoramento do artigo 73 e resolver de uma vez por todas essa questão. Antes mesmo do artigo mudar, ele pode ser interpretado e divulgado pela Aneel de uma forma mais correta e adequada para as necessidades do mercado”, apontou o dirigente.

“Por outro lado, nós temos um fator de pressão que pode ajudar a geração distribuída, que são os aumentos tarifários. Isso pode levar os consumidores a buscarem soluções. Se o mercado de energia solar seguir evoluindo tecnologicamente e reduzindo preços, teremos uma combinação muito favorável”, resumiu Sauaia.

Juros e financiamento

O CEO da Absolar destacou que os juros do país ainda estão altos, dificultando acesso ao crédito. Além disso, os bancos também estão mais exigentes. Porém, ele avaliou como uma boa tendência para o setor a continuidade da redução da taxa básica de juros. “Isso vai influenciar o barateamento do custo de crédito e de capital. Sabemos que o setor solar depende do financiamento. As pessoas não compram energia solar à vista.”

Atualmente, a taxa básica de juros (Selic) é de 12,25%. A projeção do Relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na última sexta-feira (01/12), é que o indicador chegue a 9,25% ao final de 2024.

Tarifas e preço da energia

Mesmo em um cenário de reservatórios de hidrelétricas cheios e bandeira verde mantida ao longo de todo ano, a energia elétrica residencial segue uma trajetória de aumento acima da inflação em 2023. Conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado no final de novembro pelo IBGE, o item acumula alta de 8,07% contra 4,30% do índice geral.

“Com base nas conversas que temos com o governo federal, sabemos que, se nada for feito, a tarifa em alguns estados do Nordeste poderá ter aumento de 30% a 40% no próximo ano. O setor solar oferece uma solução que ajuda o consumidor a superar esse desafio”, disse Sauaia.

Outro ponto de atenção são os impactos climáticos no volume dos reservatórios. “Será que o preço de energia vai continuar no piso no ano que vem? Podemos ter o verão mais quente da história do Brasil. Como isso vai impactar a disponibilidade da água? Como serão as chuvas com a perspectiva de El Niño? É muito difícil saber ainda”, indicou o especialista.

Preços de equipamentos

O CEO da Absolar recordou que em 2023 os preços dos painéis solares registraram uma redução recorde no mercado mundial, algo que também refletiu no Brasil. “Tivemos uma redução média na faixa de 20% para o consumidor final. Esse talvez tenha sido o grande trunfo da tecnologia fotovoltaica.”

Um levantamento da Bloomberg New Finance (BNEF) estimou que os preços de painéis solares estão nos menores níveis já registrados, atingindo US$ 0,128 por watt na terceira semana de novembro, em um momento de alta nos estoques e excesso de oferta de equipamentos.

Ainda assim, muitos fabricantes planejam manter os níveis de produção, em um movimento para pressionar a concorrência. A consultoria espera que os preços de placas solares caiam para 1 yuan por watt ou menos na China e US$ 0,12 a US$ 0,15 por watt em mercado sem barreiras comerciais.

Mercado livre e baterias

Em 2024, a migração para o mercado livre de energia será permitida para todos os consumidores do Brasil em alta tensão. Conforme a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), mais de 10,6 mil empresas já informaram às distribuidoras que vão aderir ao ambiente, que permite a negociação direta com os fornecedores de energia elétrica.

Sauaia entende que a medida não implica em redução de espaço para a energia solar, mas em uma ampliação de perfis de projetos que podem atender a esses consumidores. “Uma parte desses clientes, que só tinha como opção instalar um sistema de geração distribuída ou fazer uso da geração compartilhada, poderá comprar energia de projetos maiores ou fazer autoprodução.”

“Vai existir uma ampliação e uma mudança de modalidades e perfis de atendimento para esse tipo de cliente. Nosso setor tem que se preparar e se adaptar para essa realidade, que traz várias oportunidades”, destacou o dirigente.

Por fim, ele apontou que existe uma oportunidade de promover uma regulamentação transformadora para baterias no Brasil em 2024. “É um mercado que praticamente ainda não existe no Brasil, mas que pode se tornar gigantesco. Nosso desafio é sensibilizar Aneel para que essa regulamentação venha já no primeiro semestre.”

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Ricardo Casarin

Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.

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