Especial: Cresce o uso da energia solar pelo agronegócio no Brasil
Fatores como a elevação das tarifas e o fim do subsídio para o consumidor rural, por sua vez, aceleram a expansão da tecnologia fotovoltaica no campo



Cada vez mais o agronegócio brasileiro encontra na energia solar a solução para aumentar a produtividade, reduzir custos e garantir a segurança energética. No entanto, fatores como a elevação das tarifas e o fim do subsídio para o consumidor rural podem acelerar a expansão da tecnologia fotovoltaica no campo.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), estão em operação no Brasil mais de 550 mil sistemas solares nas modalidades de mini e microgeração. Destes, 37,1 mil (794 MWp) geradores atendem aos consumidores da classe rural. Em 2020, o uso da energia solar pelo segmento cresceu 53% em relação ao número de sistemas instalados em 2019, apurou o Portal Solar.
“Vemos no agronegócio um potencial muito grande para a energia solar. É uma fonte que traz maior autonomia em relação à variação de custo, melhora a qualidade da energia fornecida e permite o acesso à inovação tecnológica”, disse o coordenador de produção agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Maciel Silva.
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Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, o agronegócio tem enxergado na fonte a oportunidade para reduzir custos de produção, principalmente os produtores de soja, milho, algodão, leite e aves.
"Quando se olha para os custos de produção desses negócios, a energia elétrica têm um peso grande, seja para uso em resfriamento, aquecimento, seja para bombeamento de água para irrigação das culturas”, disse o dirigente da Absolar.
O diretor da SolarVolt Energia, Gabriel Guimarães Ferreira, disse ter notado o aumento da procura por sistemas fotovoltaicos pelo agronegócio, principalmente por produtores de médio e grande porte. O executivo assinala que esse perfil de cliente está acostumado a fazer investimentos em melhorias para reduzir custos e melhorar a competitividade.
A tendência é que o custo da energia elétrica receba mais atenção nos próximos anos. Os descontos tarifários destinados ao consumidor rural serão gradativamente reduzidos até 2023, conforme o decreto 9.642/2018.
“Os produtores vão ter que recorrer a outros meios e a solar pode suprir essa necessidade. Pode ser uma oportunidade da fonte se inserir ainda mais no agro”, disse Silva.
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio cresceu 24,31% em 2020 na comparação com o ano anterior. O setor responde por pouco mais de ¼ do PIB do Brasil. Mas para que esse desempenho continue, serão necessários investimentos em novas tecnologias que aumentem a automação e a digitalização dos processos.
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“A internet das coisas [IoT] traz um potencial muito grande de ser acoplada a energia renovável. Esse tipo de fonte tem sido prioridade por permitir uma autonomia maior. O caráter modular da tecnologia solar casa com essa demanda”, explicou o coordenador da CNA.
Para Silva, da CNA, o principal entrave para a energia solar é o desconhecimento sobre os benefícios e os custos da tecnologia fotovoltaica. “É uma questão de acesso à informação sobre a fonte. Há muitos mitos sobre os custos, mas há uma evolução grande nas linhas de financiamento.”
O CEO da Enerzee, Alexandre Sperafico, acredita que os produtores têm adquirido maior conhecimento sobre a geração própria de energia. “É uma questão de ver outras empresas investindo nessa tecnologia e seguir uma tendência para não ficar para trás. Também existem companhias que buscam se posicionar na sustentabilidade com a energia solar para valorizar seu produto no mercado internacional”, destacou o empresário.
Silva destaca que a geração distribuída não representa apenas uma alternativa para economizar na conta de energia, mas também para obter o primeiro acesso à eletricidade. De acordo com o Censo Agropecuário 2017, levantamento do setor mais recente feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 5 milhões de propriedades rurais, das quais cerca de 830 mil não tem conexão à rede elétrica.
Produtos nacionais
Na avaliação do vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Roberto Veiga, a expansão da matriz elétrica no País ocorrerá por meio das fontes renováveis. No entanto, ele lamenta a falta de uma política industrial para a fonte solar assim como houve para a energia eólica.
Veiga acredita que o País teria a mesma força de produção que os chineses caso o governo incentivasse a produção nacional dessa tecnologia. “Caso houvesse um programa nacional de incentivo de fabricação de painéis fotovoltaicos assim como aconteceu com a eólica, hoje não teríamos o problema com a demanda por painéis e o custo do frete internacional”, disse.

Ricardo Casarin
Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.

Adonis Teixeira
Jornalista formado pela Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, com experiência de mais de 12 anos em comunicação. Acompanha o setor elétrico brasileiro há 5 anos, atuando no monitoramento de dados e informações do setor.
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