Telhado ideal para energia solar: como orientação, inclinação e sombreamento afetam sua geração fotovoltaica

Um bom projeto fotovoltaico começa menos no painel e mais na leitura correta do telhado.

A combinação entre orientação, inclinação e sombreamento pode representar até 30% de diferença na geração de energia ao longo da vida útil do sistema, impactando diretamente o retorno financeiro do investimento. 

Orientação ideal para painéis solares no Brasil.

No hemisfério sul, os painéis solares voltados para o norte geográfico recebem a maior incidência solar ao longo do dia e do ano, sendo a orientação mais eficiente para maximizar a geração.

Quando essa face não está disponível, outras orientações podem ser utilizadas, com perdas variáveis:

• Nordeste ou Noroeste: perdas leves, entre 3% e 8%;
• Leste ou Oeste: perdas moderadas, entre 12% e 20%;
• Sul: perdas elevadas, geralmente inviáveis economicamente, exceto em regiões muito próximas à linha do Equador.

Em casos de orientação desfavorável, é possível compensar parte da perda com a instalação de módulos adicionais, desde que o espaço e a estrutura permitam.

Inclinação ideal para painéis solares: qual ângulo maximiza a geração

A inclinação do telhado influência diretamente a captação de radiação solar. A regra clássica indica que o ângulo ideal é próximo à latitude do local. Por exemplo, em São Paulo (latitude aproximada de 23°), a inclinação ideal gira em torno desse valor.

No entanto, no contexto brasileiro, há uma particularidade importante: inclinações levemente menores que a latitude tende a apresentar melhor desempenho anual, especialmente em regiões de clima tropical.

Valores de referência utilizados na prática:

• Brasil em geral: entre 10° e 17°
• Região Nordeste: entre 10° e 15°
• Região Sul: entre 30° e 40°

Inclinações abaixo de 10° aumentam o acúmulo de sujeira nos módulos, exigem manutenção mais frequente e reduzem a eficiência ao longo do tempo.

Sombreamento no telhado: o principal vilão da geração solar

Entre todos os fatores, o sombreamento é o que mais compromete a performance de um sistema solar.

Como os módulos fotovoltaicos operam em série, a sombra em uma única célula pode afetar todo o conjunto. Em determinados momentos do dia, uma sombra parcial pode reduzir a geração em até 50%.

O sombreamento pode ser classificado em dois tipos:

Sombreamento previsível

Causado por elementos permanentes, como:

• árvores,
• edificações vizinhas,
• postes,
• antenas,
• caixas d’água,
• módulos mal posicionados entre si.

Sombreamento imprevisível

Provocado por fatores temporários, como:

• folhas,
• galhos,
• poeira,
• fezes de aves.

Além disso, sombras matinais e vespertinas afetam o sistema de forma diferente conforme a orientação do telhado, o que torna indispensável uma análise técnica detalhada.

Como avaliar o sombreamento de um telhado antes da instalação

A posição do sol varia ao longo do dia e das estações do ano. Um telhado totalmente ensolarado no verão pode apresentar sombras significativas no inverno.

Por isso, empresas especializadas utilizam:

• simulações em softwares como PVSyst e RADIASOL;
• imagens de satélite (Google Maps);
• analisadores de sombra específicos;
• inspeções técnicas presenciais.

Essa etapa garante previsibilidade de geração e evita frustrações entre expectativa e resultado real.

Soluções quando há sombreamento inevitável no telhado

Quando não é possível eliminar totalmente as sombras, algumas soluções técnicas reduzem os impactos:

Microinversores
Permitem que cada módulo opere de forma independente, podendo aumentar a geração em até 20% em telhados com sombreamento parcial.

Otimizadores de potência
Minimizam o efeito de um módulo sombreado sobre os demais, melhorando o desempenho do sistema como um todo.

Dimensionamento compensatório
A adição estratégica de módulos extras pode neutralizar perdas ao longo do ano.

A própria PV Evolution Labs (PVEL) recomenda o uso dessas tecnologias em cenários de sombreamento irregular, comuns em áreas urbanas.

A importância da avaliação profissional no projeto fotovoltaico

A geração real de um sistema fotovoltaico não depende de um único fator, mas da combinação entre orientação, inclinação e sombreamento. Um projeto bem executado começa com uma avaliação técnica criteriosa.

Profissionais qualificados analisam:

• a estrutura e resistência do telhado;
• a melhor orientação disponível;
• riscos atuais e futuros de sombreamento;
• o ângulo ideal de instalação;
• a viabilidade elétrica e estrutural;
• a projeção realista de geração e economia.

Em muitos casos, um telhado voltado para leste, sem sombra, gera mais energia do que um telhado voltado para o norte com sombreamento parcial. Cada projeto é único.

Um telhado bem escolhido garante décadas de economia

A energia solar é uma das decisões mais inteligentes do ponto de vista econômico e ambiental. No entanto, o desempenho do sistema está diretamente ligado às condições do telhado.

Com orientação adequada, inclinação correta e controle de sombreamento, um sistema fotovoltaico pode operar por 25 a 30 anos com alta performance, oferecendo economia previsível e sustentável ao longo do tempo.

Sobre a autora

Laís Victor é especialista em energias renováveis e diretora-executiva de parcerias, com 15 anos de atuação no setor de energia. Sua experiência inclui desenvolvimento de negócios, estruturação de alianças estratégicas e atração de investimentos voltados à transição energética, com foco na construção de ecossistemas sustentáveis e soluções inovadoras no mercado global de renováveis.