Uso de BESS em Usinas Fotovoltaicas
Como Integradores Podem Extrair o Máximo do Uso de BESS em Usinas Fotovoltaicas


Como Integradores Podem Extrair o Máximo do Uso de BESS em Usinas Fotovoltaicas
Nos últimos anos, o Brasil consolidou-se como um dos principais mercados solares do mundo. De acordo com dados recentes da ANEEL, o país já ultrapassou a marca de dezenas de gigawatts instalados, somando geração distribuída e centralizada. Esse avanço representa não apenas grandes oportunidades, mas também desafios relevantes para integradores e EPCistas. Assim, para alcançar êxito na comercialização de sistemas BESS associados a usinas solares, é fundamental compreender a fundo essas novas demandas do setor.
Entre elas, destacam-se:
- Intermitência da geração solar, que dificulta previsibilidade.
- Limites da rede, impostos pelas distribuidoras.
- Tarifas de energia cada vez mais complexas, com diferenças acentuadas entre ponta e fora de ponta.
- Problemas de qualidade de energia (VTCDs), que afetam tanto a usina quanto a operação do cliente.
É nesse cenário que o Battery Energy Storage System (BESS) se tornou um aliado estratégico, permitindo que a energia solar vá além da simples geração, tornando-se uma solução de flexibilidade e confiabilidade.
Principais Funções do BESS em Usinas Fotovoltaicas junto à Carga
Armazenamento e despacho de energia
O uso mais intuitivo do BESS é carregar fora da ponta (pela usina solar e pela concessionária quando o custo é menor) e descarregar na ponta (quando o custo da energia é elevado). Essa arbitragem tarifária garante economia direta na conta do cliente.
Este uso pode ser associado também a uma ultrapassagem de demanda contradada. No momento em que a carga consome mais que a demanda contradata, pode ser utilizado o BESS para completar a diferença.

O gráfico ilustra o funcionamento do BESS de 100 kW/261 kWh em duas situações distintas.
No primeiro momento, o sistema é carregado em horários de menor custo de energia ou a partir da própria geração fotovoltaica. Quando a demanda do cliente ultrapassa o limite contratado (90kW nesse caso), o BESS entra em operação para suprir a diferença, evitando que a carga excedente seja atendida pela rede e gerando penalidades. Essa estratégia é conhecida como peak shaving.
No segundo momento, já com a bateria carregada, o BESS é utilizado no período entre 18h e 21h, justamente o intervalo em que a energia da concessionária é mais cara. Nessa condição, o sistema fornece energia armazenada e reduz a dependência da rede, caracterizando a função de load shifting.
Correção de fator de potência e qualidade de energia
Um BESS bem configurado também pode fornecer suporte reativo (kvar), corrigindo o fator de potência e ajudando a mitigar variações de tensão e distúrbios. Isso reduz riscos de penalidades e melhora a relação com a concessionária.

O gráfico apresenta a evolução do fator de potência (FP) em uma planta industrial antes e depois da integração de um sistema BESS com PCS. Nos primeiros meses, observa-se que o FP permanecia em níveis baixos, variando entre 0,66 e 0,70, bem abaixo do limite regulatório de 0,92 exigido pela ANEEL.
A partir da entrada em operação do BESS, o FP sofreu uma melhoria significativa, superando o limite mínimo e alcançando valores próximos de 0,95 nos meses seguintes. Embora em outubro tenha ocorrido uma leve redução, os resultados gerais demonstram que o sistema garantiu a correção do FP, assegurando conformidade regulatória, redução de penalidades e maior eficiência na operação elétrica da planta.
Backup crítico
Em locais onde a continuidade da energia é vital — indústrias com processos sensíveis, hospitais, data centers — o BESS atua como fonte imediata em casos de falha da rede, evitando paradas abruptas e prejuízos.
Redução de curtailment
Quando a usina FV (ou eólica) gera mais energia do que a rede ou a carga pode absorver, ocorre o chamado curtailment. O BESS armazena esse excedente, garantindo que a geração solar não seja desperdiçada.

Obs.: Ainda não existe legislação no Brasil para esse tipo de aplicação “na frente do medidor”, por isso o BESS é bem utilizado em usinas off grid ou então junto a carga: “behind the meter”.
Benefícios Práticos para o Integrador
- Mais valor agregado no projeto: ao invés de vender apenas potência (kWp), o integrador passa a entregar energia armazenada (kWh) e serviços de rede, aumentando a relevância da solução.
- Maior fidelização do cliente: sistemas híbridos FV + BESS oferecem ROI mais claro e previsível, reforçando a confiança do cliente na solução.
- Diferencial competitivo: ainda são poucos os players que dominam o correto dimensionamento de BESS. Quem domina esse conhecimento se posiciona à frente no mercado.
Desafios no Campo e Como Superá-los
Dimensionamento incorreto
Um erro comum é dimensionar o BESS sem considerar o perfil real de carga e as tarifas aplicáveis. Para evitar, sempre solicitar curvas horárias e simular cenários antes da proposta.
Integração elétrica
O ponto de conexão (BT ou MT), proteções e transformadores precisam ser definidos desde o início. Falhas nessa etapa resultam em retrabalho no comissionamento.
Comunicação e EMS
A interoperabilidade entre PCS, inversores solares e o sistema de gestão de energia (EMS) é um gargalo. A escolha de protocolos compatíveis (Modbus TCP/IP, CAN, etc.) deve ser validada na fase de projeto.
Manutenção
O ciclo de vida das baterias precisa ser planejado. Além disso, questões logísticas como ventilação, espaço físico e acessibilidade ao container/cabinet impactam diretamente a O&M.
Conclusão
O integrador que domina BESS deixa de ser apenas instalador de módulos e passa a atuar como consultor de energia — alguém capaz de transformar a usina fotovoltaica em uma plataforma de serviços energéticos.
O futuro do setor solar no Brasil será híbrido. Em até dois ou três anos, com os movimentos regulatórios da ANEEL (como a chamada pública 39 e o Leilão de Reserva de Capacidade), sistemas FV + BESS deixarão de ser diferencial e passarão a ser regra.
Quem
se preparar desde já terá muito mais espaço e relevância no
mercado.
ARTIGO 01 – 05/09/2025 – SÍLVIA S RESENDE

Sílvia S Resende
Engenheira Eletricista e Mestranda em Dinâmica de Sistemas Elétricos pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) é especialista em armazenamento de energia (BESS), usinas híbridas e microrredes. Possui trajetória como eletricista, técnica em eletrotécnica e engenheira em grandes empresas dos setores de energia, siderurgia, petróleo e gás e fabricantes de equipamentos.
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