Especial: Tarifas elevadas devem acelerar uso de baterias residenciais

Crescimento da geração distribuída e evolução tecnológica criam cenário favorável para aplicação do armazenamento de energia

ESPECIAL: TARIFAS ELEVADAS DEVEM ACELERAR USO DE BATERIAS RESIDENCIAIS
Reprodução web

O cenário de avanço da geração distribuída (GD), combinado com tendência de aumento das tarifas do mercado regulado e redução de preços das baterias cria perspectiva de maior viabilidade para sistemas de armazenamento de energia para o consumidor final nos próximos anos. Utilização da tecnologia também evolui em aplicações para distribuição, transmissão e geração centralizada.

O presidente da Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia (Abaque), Carlos Brandão, aponta o potencial da tecnologia para o atendimento de sistemas isolados substituindo geradores a diesel. “Estamos falando de viabilidade de algo que tem mais de 200 GW de capacidade instalada no mundo todo. Me pergunto por que esse mercado não é incentivado e não se criam condições para se desenvolver, especialmente em um momento de crise hídrica", disse.

Ele também vê os sistemas de armazenamento de energia diretamente relacionados com a modernização do setor elétrico brasileiro. “No contexto de separação de lastro e energia, o armazenamento pode representar uma nova capacidade de reserva. A regulamentação está muito atrasada nesse ponto”, avaliou o dirigente.

Para o coordenador do laboratório do Centro de Pesquisa e Capacitação em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (FV-UFSC), Ricardo Rüther, as tarifas de energia mais altas tornam cada vez mais viáveis a tecnologia solar, que, por sua vez, se beneficiam da entrada de baterias em sistemas residenciais.

Ele ressalta que as perspectivas do mercado brasileiro de armazenamento, no que tange a GD, estão muito relacionadas a revisão do Resolução Normativa (REN) 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ao Projeto de Lei 5829/19, atualmente em tramitação no Congresso. 

“Esta discussão está muito intensa no momento e, dependendo do seu resultado, poderemos ter um impulso muito grande para o armazenamento, caso o prosumidor que tem um telhado fotovoltaico seja obrigado a pagar pelo uso da rede elétrica valores maiores do que a taxa de disponibilidade que vem sendo paga desde o início da aplicação da RN 482”, disse Rüther.

“Isso tudo pode acontecer muito rapidamente e assim nos próximos anos a adoção de armazenamento neste mercado de GD pode crescer muito, acompanhado pela redução acentuada nos preços das baterias, que continua a acontecer”, assinalou o pesquisador.

O gerente de inovação e transformação da CPFL Energia, Rafael Moya, avalia que a aplicação para o usuário final é a mais pronta para o uso atualmente. “Quem não quer gerador a diesel, e é atraído por sistemas fotovoltaicos, pode achar o custo médio da bateria mais competitivo”, disse.

Moya entende que as variações de tarifa darão a indicação de quão rápido isso se desenvolverá. “Depende também de um último incentivo. Um sinal econômico motiva carregar a bateria durante o dia e descarregar no horário da ponta”, disse. 

“Para  impulsionar o avanço em residências, um caminho seria uma mudança tarifária ou, a partir de alguma potência na rede, ter obrigatoriamente um sistema de armazenamento, para não gerar custo excessivos para quem não tem o equipamento solar”, sugeriu Moya.

Embora um dos principais entraves para a difusão do uso destes equipamentos seja o preço das baterias, ainda considerado elevado, Rüther assinala que a evolução tecnológica e de redução de custos tem sido constante e rápida, puxada principalmente pela mobilidade elétrica.

“O aumento da capacidade de carga das baterias está diretamente relacionado com a autonomia do veículo. Nas aplicações estacionárias essa questão não é tão crítica, pois o peso e o espaço ocupado por uma bateria é menos relevante do que em um carro. Por exemplo, de 2011 para 2019 a bateria do Nissan Leaf passou de uma capacidade de 24,5 kWh para 40 kWh ocupando o mesmo espaço. Isso é um aumento de 63% da autonomia em 8 anos.”

Quanto aos custos, o pesquisador ilustra que atualmente uma bateria de íons de lítio custa 10% do que custava em 2011. “Estes avanços continuam em curso, com novas químicas sendo desenvolvidas todo o tempo", disse o representante da CPFL Energia. 

Suporte às renováveis

Rüther também destaca que, na geração centralizada, começam a entrar em operação as primeiras baterias de maior tamanho no País, para oferecer suporte à intermitência da geração solar e eólica. “As baterias já estão chegando ao nível de preço que viabilizará sua entrada neste mercado também”, afirma. 

Ele detalha que nestes casos há vários benefícios dos sistemas de armazenamento, como suporte de tensão e frequência, arbitragem do mercado de energia, suavização de rampas de geradores solares e eólicos, os chamados serviços ancilares.

Moya explica que a CPFL Energia tem um programa dentro da chamada de pesquisa e desenvolvimento estratégico da Aneel para arranjos técnicos e comerciais para a inserção de sistemas de armazenamento de energia no setor elétrico brasileiro.

A companhia já aportou mais de R$ 27 milhões de um total de R$ 66 milhões que serão utilizados na iniciativa. “Avaliamos a aplicação em sistemas de distribuição, sistemas de transmissão e geração e para o usuário final, com foco em cliente industrial com consumo relevante”, disse Moya.

Ele explica que a distribuidora enxerga as baterias auxiliando na operação, diminuindo interrupções. No caso da geração e transmissão, os sistemas de armazenamento têm papel importante na expansão das fontes renováveis.

“É preciso conciliar as renováveis com a disponibilidade da transmissão, sabendo que há limitações para trazer a energia gerada nos parques eólicos do Nordeste para o centro da carga, no Sudeste. O armazenamento pode evitar o congestionamento e otimizar a geração”, apontou.

Baterias de vanádio

O CEO da Largo Resources, Paulo Misk, destaca que, por ter uma predominância de fontes renováveis na matriz elétrica, o abastecimento de energia do Brasil é cada vez mais atrelado a sazonalidades.

“Por isso, as baterias de vanádio chegam para cumprir um importante papel de alternativa limpa, segura e economicamente viável para garantir estabilidade no abastecimento de energia elétrica em momentos de escassez dos recursos como estamos vivendo atualmente durante o período seco”, disse o executivo.

Ele conta que, por essas razões, a companhia, que produz vanádio e desenvolve soluções de armazenamento, avalia o Brasil como um dos principais mercados para as baterias de longa duração de descarga de energia elétrica.

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Ricardo Casarin

Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.

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