Leilão A-5 deverá ter baixa contratação de energia, apontam consultorias
Disputa ocorrerá na próxima quinta-feira (30) às 10h; EPE cadastrou 1.694 projetos de geração de energia, mais de 93 GW de potência


O leilão de energia nova A-5 deverá contratar algo entre 500 MW médios a 1.000 MW médios na próxima quinta-feira (30/9). O volume é classificado como baixo pelas principais consultorias do mercado de energia, porém reflete as incertezas econômicas e regulatórias do Brasil.
Em 2019, foram contratados 1,1 GW médio no leilão A-6, com 91 usinas vendedoras e investimento estimado em R$ 11,1 bilhões. No ano passado, o governo cancelou a disputa por causa da pandemia de coronavírus.
O certame visa a contratação de energia elétrica proveniente de novos projetos de geração a partir das fontes hídrica, eólica, solar fotovoltaica e termelétrica (biomassa, gás natural, carvão mineral nacional e tratamento de resíduos sólidos urbanos), com início de suprimento em 1º de janeiro de 2026.
A disputa está prevista para começar às 10h, com transmissão em tempo real pelo site da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) cadastrou 1.694 projetos de geração de energia, mais de 93 GW de potência. O processo de cadastramento foi concluído em 2 de junho de 2021. Os contratos têm prazos diferentes. Para fonte solar e eólica são de 15 anos, as térmicas terão 20 anos e as hidrelétricas 25 anos.
Embora os cálculos regulatórios apontem para uma necessidade de contratação de energia de até 2,5 GW médios, a Thymos Energia estima que o resultado do leilão A-5 será bem menor. "A demanda deve ficar próximo de 500 MW médios", disse o sócio-diretor da consultoria, Alexandre Viana.
"Quando realizamos os cálculos regulatórios consideramos a carga atual, a projeção futura e subtraímos os contratos que vão terminar. Chegamos a algo entre 2,3 GW e 2,5 GW médios. Porém, a declaração efetiva das distribuidoras deverá ser bem baixa porque as empresas estão receosas em declarar montantes altos por conta da expansão do mercado livre e do crescimento da geração distribuída", esclareceu o executivo.
Rodrigo Gelli Cavalcanti, diretor técnico da consultoria internacional PSR, também disse que a expectativa é de pouca contratação, considerando que nos últimos leilões de energia houve poucos pedidos de clientes para estimar a demanda a ser contratada.
De acordo com o especialista, as distribuidoras estarão "bastante" contratadas em 2026. "A nossa expectativa é conservadora, menos de 1 GW médio", disse o diretor da PSR. Ele também acredita que "alguma" usina de waste-to-energy será contratada, "só que vai ser uma fração de uma demanda pequena".
Abertura do mercado livre é risco para as distribuidoras
O leilão tem como objetivo atender exclusivamente à demanda do mercado cativo (distribuidoras de energia). No entanto, há alguns anos os consumidores e os investimentos estão migrando para o mercado livre, reduzindo o mercado das distribuidoras e colocando-as em situação de risco de sobreoferta. Adicionalmente, a geração distribuída está em acelerada expansão no País contribuindo para deslocar parte da demanda.
Para Ricardo Lima, sócio-diretor da Tempo Presente Consultoria e Energia, existe uma grande incerteza em relação à demanda declarada pelas concessionárias: seja pelo cenário econômico desafiador, seja pelas dúvidas sobre o tratamento regulatório que será dado aos contratos após a abertura total do mercado livre de energia, tema que está em discussão no Brasil.
Viana explicou que uma contratação em leilão se torna uma obrigação para as distribuidoras no futuro. Portanto, as concessionárias preferem ser mais conservadoras. Ele espera uma grande competição entre as renováveis, principalmente eólica e solar, porém com preços de venda mais altos do que os últimos leilões, uma vez que houve aumento "forte" do Capex (custo do capital).
Durante participação na Comissão de Minas e Energia nesta terça-feira (28/9), Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), disse que as distribuidoras têm um volume grande de contratos realizados que precisam ser equacionados antes de uma abertura total do mercado livre, para que essa migração de consumidores não onere os clientes que ficarem no mercado regulado.
Energia que vem do lixo
Apesar desse cenário, existe uma boa expectativa em relação à primeira contratação de um projeto de waste-to-energy - usinas que produzem energia elétrica a partir de resíduos urbanos. "Será uma sinalização interessante para o mercado brasileiro, principalmente na questão de imagem, por estar diversificando ainda mais a matriz elétrica", disse Viana da Thymos, em entrevista ao Portal Solar.
Segundo o CEO da Eolus Consultoria, Rafael Valverde, o setor elétrico brasileiro tem avançado na agenda de modernização, porém o ambiente político/econômico traz muita incerteza para os investidores e isso sempre é um ponto de atenção. Com um cenário hidrológico desfavorável, a tendência é pensar que haverá contratação.
"Há quatro anos estávamos falando em escassez hidrológica. Há 20 anos tivemos um grande racionamento. Nesse período, investimos em renováveis e hidrelétricas, mas parece que esse investimento não foi suficiente para reduzir o nosso risco de suprimento. Portanto, esses investimentos devem ser ampliados”, afirmou Valverde.
Para ele, tecnologias mais competitivas têm buscado uma consolidação no mercado livre, como eólica e solar. Porém, os leilões regulados são importantes para novas fontes que estão buscando espaço no mercado brasileiro, com hidrogênio, eólica offshore, armazenamento de energia e waste-to-energy (WTE).
"O leilão A-5 pode ser importante para essas fontes que estão buscando espaço no mercado, enquanto as fontes mais competitivas vão buscar se consolidar fora do leilão", disse Valverde.
Estratégia de negócio
Por outro lado, disse Ricardo Lima, há um crescimento grande da autoprodução por "equiparação". Trata-se de uma estrutura de negócio em que o gerador de energia e o consumidor (normalmente industrial) se tornam sócios de uma usina.
De posse de uma "fatia" do empreendimento, o consumidor firma um contrato de compra de energia de longo prazo equivalente à participação no negócio, garantindo o financiamento do projeto.
Nesse contexto, o empreendedor pode ir para o leilão com a estratégia única de garantir a conexão do projeto no Sistema Interligado Nacional (SIN), reservando uma parte deste para contratos do tipo autoprodução, separando os negócios em Sociedades de Propósito Específico (SPEs).
Além de não pagar uma série de encargos, o consumidor pode comprar uma energia de fontes limpas como solar fotovoltaica e eólica.

Wagner Freire
Jornalista com Bacharel em Comunicação Social pela FMU e pós-graduado em Finanças. Especialista com mais de 10 anos de experiência na cobertura do mercado de energia elétrica, tendo trabalhado no Estadão, CanalEnergia, Jornal da Energia, Revista GTD e DCI.
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