Certificação de renováveis deve impulsionar demanda por projetos de energia limpa
Mecanismo que garante a origem da eletricidade utilizada por empresas pode se tornar diferencial competitivo e exigência de mercado nos próximos anos


A certificação de energia renovável deverá impulsionar a demanda por projetos de geração limpa no Brasil e no mundo, avaliam comercializadoras de energia e entidades do setor elétrico. O mecanismo fornece uma garantia da origem da eletricidade utilizada por empresas, viabilizando o cumprimento de metas de sustentabilidade, além de agregar valor a serviços e produtos.
Nos últimos anos, o mercado de certificados de energia renovável apresenta crescimento relevante no Brasil. Um dos principais sistemas, o I-REC Standard, registrou quase 22 milhões de emissões de carbono certificadas em 2022, frente a 9 milhões em 2021, conforme dados do Instituto Totum, instituição credenciada como emissor local dos I-RECs no País.
Conforme o diretor executivo do Instituto Totum, Fernando Gianchini Lopes, a expectativa é de que o mercado nacional supere 40 milhões de emissões certificadas em 2023. “Até o início de março, nós já transacionamos 11 milhões de certificados”, disse durante o I-REC Day Brasil, evento realizado em 9 março em São Paulo.
O número de usinas de geração renovável registradas para fornecer certificados também apresentou evolução no País, subindo de 266 para 449 entre 2021 e 2022, um aumento de 70%. “Um I-REC significa um MW/hora de energia renovável produzida, tendo em volta dele todas as garantias de governança para evitar dupla contagem e duplo beneficiário. A partir dessa definição, foi criado um mercado no Brasil que dobra a cada ano”, afirmou o executivo.
Na visão de Gianchini, a certificação gera receitas extras para o setor de renováveis e permite que os consumidores de energia elétrica possam exercer o seu poder de compra. O diretor executivo da I-REC Standard Foundation, Jared Braslawsky, compartilha essa visão.
“A certificação sempre foi baseada na ideia de que as pessoas estão dispostas a pagar mais por produtos de melhor qualidade. No caso, o consumidor quer um produto que faça uso de energia renovável”, afirmou o especialista, durante o evento.
Ele acredita que, em um futuro próximo, não serão apenas grandes empresas, como o Google e a Microsoft que terão metas de uso exclusivo de energia renovável, mas que isso será uma exigência para produtos individuais. “Será preciso comprovar o tipo de energia usada na origem de todos os itens utilizados na fabricação.”
Braslawsky prevê que esse cenário será financeiramente obrigatório paras as companhias, em razão de regulamentações e penalizações fiscais. “Por exemplo, uma lei na União Europeia estabelece que produtos importados que são mais intensivos em emissões do que os de origem local terão que pagar um imposto. Com isso, será necessário certificar a eletricidade utilizada no processo de fabricação. Uma proposta de legislação semelhante já existe nos EUA.”
“Esse cenário, focado em produtos, vai fazer com que tenhamos um crescimento extremo do uso de energia renovável. Teremos muito mais demanda no futuro”, avaliou o diretor executivo. Ele entende que cenário será benéfico ao Brasil, que possui espaço e capacidade para desenvolver projetos para atender o mercado.
Um exemplo apresentado durante a conferência foi da United Mills Alimentos. A companhia, especializada em barras de cereais, decidiu entrar no segmento de chocolate, acrescentando um apelo sustentável ao produto.
"Lançamos um chocolate fabricado com energia solar e recebemos uma certificação I-REC. Isso tem trazido uma grande aceitação não só com o consumidor, mas também com distribuidores e grandes redes de varejo. Hoje todo mundo está antenado nesse tema”, declarou o sócio administrador da United Mills Alimentos, André Faria Parodi.
Mercado livre de energia
O crescimento do setor de certificação de renováveis crescem em conjunto com o mercado livre de energia. Esse ambiente permite que grandes consumidores negociem diretamente as condições de contrato e fornecimento de energia elétrica com geradores ou comercializadoras de energia.
O segmento representa cerca de 37% do consumo de eletricidade do Brasil e tem sido o principal responsável pela expansão da oferta de geração renovável do País. Um levantamento da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) indica que o mercado livre responde por mais de 80% da capacidade prevista para entrar em operação no Brasil até 2026. A grande maioria desses projetos são das fontes eólica e solar.
Dessa forma, a certificação de renováveis tem integrado a estratégia de comercialização de energia no segmento. O diretor comercial da Matrix Energia, Bernardo Alvarenga, detalha os perfis distintos de consumidores do mercado livre que buscam a solução.
“O primeiro consumidor é aquele que já vem direcionado, que sabe o que quer e as vezes tem preferência por uma fonte de energia, seja solar ou eólica. O segundo tipo é aquele que busca o melhor preço possível”, explica o executivo.
“Existe também um terceiro tipo, que nem sabe da existência do certificado, mas tem interesse em rastrear a origem renovável da energia utilizada em seu negócio”, assinalou Alvarenga, acrescentando que cabe a comercializadora orientar esse cliente para buscar a certificação.

Ricardo Casarin
Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.
Artigos que podem te interessar
Brasil deve adicionar 10,6 GW de energia solar em 2026
Número representa queda de 7% em relação à capacidade instalada em 2025, mostram projeções da Absolar
11/12/20252 min de leitura
SNEC PV & ES LATAM 2026 inicia credenciamento para evento em SP
Cadastro já pode ser realizado no site oficial a partir deste mês; com organização da NürnbergMesse e Oakstream, congresso e feira ocorrem entre 24 e 26 de março
10/12/20252 min de leitura
Brasil registra adesão de 217 mil empresas ao uso de energia solar em 2025
Foram adicionados 2 GW entre janeiro e outubro para atender companhias de comércio, serviços e indústrias
09/12/20252 min de leitura
Participação de consumidores varejistas quadruplica no mercado livre de energia
Menor restrição de acesso ao Ambiente de Contratação Livre (ACL) impulsiona adesões desde janeiro de 2024, mostra pesquisa da Abraceel
08/12/20252 min de leitura
São Paulo (SP) recebe o Encontro Nacional Absolar em 10 e 11 de dezembro
Evento reunirá empresas e especialistas para debater as perspectivas do mercado de energia solar
05/12/20252 min de leitura

A Revolução Silenciosa da Energia Distribuída: Como SIGFI e Agrovoltaico estão redesenhando o mapa energético brasileiro
Enquanto os holofotes celebram o Brasil como o quarto maior mercado de energia solar do mundo, uma transformação mais profunda e silenciosa está em curso, longe das gigantescas usinas centralizadas.
03/12/20255 min de leitura
Brasil terá bandeira tarifária amarela em dezembro
Cenário traz custo adicional de R$ 1,885 a cada 100 kWh de energia elétrica consumidos país
01/12/20251 min de leitura

Como escolher uma empresa de energia solar confiável: 7 sinais de que você está fazendo a escolha certa
A energia solar já é a segunda maior fonte da matriz elétrica brasileira, com cerca de 60 GW de potência instalada e mais de 2,5 milhões de sistemas solares fotovoltaicos em operação, segundo dados da ABSOLAR.
18/11/20256 min de leitura

