Fretes marítimos devem seguir com preços elevados até 2023

Os preços de fretes marítimos devem seguir em patamares elevados até o final de 2022 ou até começo de 2023, avalia o consultor do FGV Transportes, Roberto Levier. Gargalos como falta de contêineres, congestionamentos em portos e medidas de isolamento contra a pandemia de Covid-19 têm pressionado o mercado nos últimos dois anos.

“Antes mesmo da pandemia, o mercado internacional de fretes já estava desbalanceado, com a maioria da produção de bens de consumo e intermediários feita na Ásia. O contêiner chega ao destino, geralmente em países da América do Norte e Europa, e fica vazio esperando o retorno”, disse Levier em entrevista ao Portal Solar.

“O contêiner cheio sempre tem prioridade em relação ao vazio, que representa um custo para retornar à área de carregamento. O cheio gera receita. Com a pandemia, as fábricas pararam e o sistema todo travou”, detalhou o especialista.

De acordo com dados de junho da consultoria Drewry Shipping, o preço médio do frete internacional para contêiner de 12 metros esteve próximo dos US$ 7 mil, um aumento de mais de 300% em relação ao mesmo período do ano passado. O levantamento mostra que o preço médio do último ano é de US$ 5.427, cerca de US$ 3 mil mais caro do que a média há cinco anos.

Recentemente, o porto de Yantian, na cidade chinesa de Shenzen, ficou fechado em razão de um surto de Covid-19. A situação gerou um congestionamento de navios e cancelamento de viagens. “Há relatos de que mais de 300 navios ficaram em espera”, contou Levier. “Isso também reflete em congestionamentos em portos nos Estados Unidos e Holanda”, arrematou.

Ele avalia que a situação só será solucionada com a entrada de novos navios e contêineres no mercado, aumentando a capacidade do sistema. “O frete vai continuar nesse patamar e até aumentar um pouco. É basicamente uma questão de lei do mercado, procura e oferta", disse o consultor da FGV.

"Aos poucos as coisas vão se normalizando. As grandes linhas estão lucrando muito nos últimos três trimestres, não tem pressa pra baixar o preço, mas chega a um ponto que os grandes clientes já começam a investir em transporte próprio", ressaltou o especialista.  

Setor solar

O cenário crítico tem efeitos diretos na cadeia do setor solar, cuja produção industrial, especialmente de painéis fotovoltaicos, se concentra na China. A disparada no preço dos fretes se soma a outros fatores, como a escassez de matéria-prima e, no caso do Brasil, da desvalorização do Real em relação ao Dólar, resultando em pressão nos custos dos equipamentos importados.

“Com relação à energia solar, os equipamentos podem ficar mais caros. Os custos aumentaram e a China precisou aumentar a produção de silício policristalino, por conta do aquecimento do mercado global. Isso está afetando outros países, como os EUA”, disse Levier.

Uma pesquisa publicada em abril pela consultoria IHS Markit indicou que o tempo de entrega dos últimos trimestres é o mais alto dos últimos 20 anos. “O fenômeno é global e está impactando todas as indústrias. Os custos altos de frete e longos prazos de entrega podem ser um desafio para a finalização de projetos solares em 2021”, escreveu a diretora executiva de tecnologia de geração limpa da IHS Markit, Edurne Zoco.