Dia do perdão e preços baixos desafiam mercado de geração centralizada
Cenário tem causado postergação e cancelamento de projetos de energia solar de grande porte; minigeração distribuída e usinas híbridas têm tendências favoráveis



O cancelamento e postergação de projetos em razão dos preços baixos de energia e do “dia do perdão” desafiam o mercado brasileiro de geração solar centralizada. Fornecedores de equipamentos fotovoltaicos veem cenário mais favorável nos segmentos de minigeração distribuída e tendência de avanço em empreendimentos híbridos ou associados.
Desde 2022, os níveis dos reservatórios de hidrelétricas se mantêm altos, reduzindo os custos de geração de energia do país. Dessa forma, o Preço de Liquidação das Diferença (PLD), utilizado como referência para contratos no mercado livre de energia, está em um patamar extremamente baixo.
O vice-presidente de vendas para América Latina da Array Technologies, Claudio Loureiro, avalia que, mesmo com a queda de custos dos equipamentos de energia solar e o câmbio favorável, a equação financeira para desenvolver projetos e fechar contratos de compra e venda de energia (PPA) não se sustenta atualmente.
Leia mais: Câmbio e excesso de oferta reduzem preços de equipamentos fotovoltaicos no Brasil
“Os projetos estão sendo postergados até ter um valor de PPA aceitável para fazer o investimento”, explicou o executivo da fabricante de rastreadores solares, em entrevista concedida ao Portal Solar durante a Intersolar South America, realizada em São Paulo (SP) no final de agosto.
Ele acredita que uma vertente que deve apresentar crescimento é a das usinas associadas e híbridas, empreendimentos que combinam a geração de fontes diferentes, como a eólica e a solar. “É um nicho que deve ser explorado, para melhorar a eficiência do ativo.”
“Não é necessário desenvolver tudo desde o começo e é possível melhorar a geração de uma usina que já existe. Temos recebido consultas de geradores eólicos fazendo estudos de associação”, detalhou Loureiro.
Anistia de projetos
O Country Manager da Sungrow no Brasil, Rafael Ribeiro, assinalou que a anistia para projetos de energia renovável concedida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que assinaram Contratos de Uso do Sistema de Transmissão (CUST), mas não entraram em operação comercial, afetou negativamente o mercado.
“O mercado de geração centralizada estava muito bem, chegou a vender 2,6 GW nesse ano com contratos que tínhamos fechado no passado. Mas o dia do perdão da Aneel prejudicou bastante a nossa operação, porque pedidos que já tinham sido assinados foram cancelados e outros, que estavam em negociação, foram prorrogados ou cancelados”, revelou o executivo da fabricante de inversores
Ele afirmou que em 2024, a companhia atuará principalmente em projetos já firmados e oriundos de leilões de energia, modalidade que não foi incluída no dia do perdão. “Estamos trabalhando nesses projetos, com clientes com PPA já assinados. Mas a grande maioria cancelou ou prorrogou.”
Minigeração distribuída
Ribeiro destacou que o segmento de projetos de minigeração distribuída, projetos com potência instalada entre 75 kW e 5 MW, estão apresentando demanda acima do esperado em 2023. “Esse mercado esquentou demais e tem gerado bastante volume. Já vendemos mais de 800 MW para esse perfil de projeto só esse ano.”
Leia mais: Mini GD deve impulsionar mercado brasileiro de energia solar no 2º semestre
Esse momento é causado pela mudança regulatória promovida pela Lei 14.300. Usinas de energia solar de minigeração distribuída que solicitaram conexão de acesso à rede antes de 7 de janeiro de 2023 entraram na regra de transição, mantendo a paridade tarifária até 2045. Esses empreendimentos são denominados GD I.
A lei determina um prazo de 12 meses após a data de emissão do parecer de acesso para que usinas de minigeração da fonte solar se conectem à rede. Para atender esse requisito, os projetos devem ser desenvolvidos até o final do ano, gerando demanda por equipamentos de energia solar no país.
Ao mesmo tempo, Ribeiro aponta que ainda não tem uma visão concreta de como será a demanda de projetos que solicitaram conexão após 7 de janeiro (GD II). “A visão está meio nebulosa. Não sabemos ainda como será a rentabilidade para investidores de usinas solares GD II.”

Emily Moura
Jornalista formada pela PUC-SP. Possui experiência nas áreas de jornalismo financeiro, econômico, tecnológico e de entretenimento.

Ricardo Casarin
Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.
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