Novos modelos tarifários podem impulsionar baterias residenciais no Brasil

Incentivos econômicos à gestão do consumo de eletricidade devem fazer mercado, ainda limitado a aplicações de backup, deslanchar no país

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A adoção de novos modelos tarifários pode impulsionar o uso de sistemas residenciais de armazenamento de energia com baterias no Brasil. Mercado, ainda limitado a aplicações de backup, tem grande potencial de crescimento no país no uso conjunto com energia solar e na gestão do consumo de eletricidade.

O country manager da SolarEdge Brasil, Juliano Pereira, explicou que o mercado brasileiro atualmente é formado por early adopters, usuários com interesse em testar novas tecnologias, que buscam uma solução para momentos de interrupção no fornecimento de energia.

“Eles querem a bateria para contar com o ar-condicionado, iluminação e internet enquanto ocorre uma oscilação de rede. Nós já vemos uma série de clientes adotando essa solução”, explicou o executivo.

Ele acredita que, para que o segmento apresente uma aceleração, já vista em outros países, é necessária uma evolução no racional econômico, para que o retorno do investimento seja mais vantajoso a um número maior de usuários.

O presidente da Associação Brasileira de Soluções de Armazenamento de Energia (Absae), Markus Vlasits, declarou que esse é um uso ineficiente do equipamento, projetado para uso mais frequente.

“Para o mercado deslanchar, eu acredito que precisaríamos, em primeiro lugar, de uma revisão tarifária para alguns usuários em baixa tensão”, afirmou o dirigente, em entrevista coletiva realizada durante a Intersolar South America.

Ele detalhou que o Brasil conta com uma tarifa monômia, que cobra unicamente pela quantidade de energia consumida. Já uma tarifa binômia incluiria uma remuneração aos custos fixos das distribuidoras, levando em conta também a demanda dos consumidores.

Entre outros impactos, esse modelo poderia incentivar o menor consumo de energia elétrica em horários de pico. Atualmente, essa tarifa é restrita a alta tensão e o estabelecimento para consumidores de baixa tensão está sendo debatido na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

“Precisaríamos da implantação de uma tarifa que, efetivamente, reflita a escassez ou abundância de energia. Faríamos isso para todos os usuários, inclusive tarifa social? Jamais, mas isso poderia ser discutido para alguns grupos”, assinalou Vlasits.

Ele acrescentou que o uso em conjunto das baterias com sistemas de energia solar na geração distribuída ajudaria a rede elétrica com uma menor injeção de excedente em momentos de demanda reduzida. “Assim, o consumidor poderia fazer uso da energia armazenada no horário em que a eletricidade é mais cara.”

Inversão de fluxo

Dessa forma, a aplicação de baterias residenciais surge como uma potencial solução para um problema que tem atrapalhado o mercado de energia solar brasileiro: as constantes alegações de inversão de fluxo por parte das distribuidoras.

Desde o ano passado, o setor tem sofrido com uma série de suspensões e cancelamentos de instalações de geração distribuída, sob argumento de que as redes estão incapacitadas de receber a energia injetada.

Leia mais: Aprovação de lei poderá trazer solução para alegações de inversão de fluxo

O especialista técnico-regulatório da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Vinícius Suppion, destacou que o armazenamento poderá ser cada vez mais apresentado por empresas de instalação de energia solar como uma ferramenta para mitigar esse problema.

“Quem sabe, dessa forma, o armazenamento possa ganhar mais força. Por exemplo, na Alemanha, praticamente 80% dos novos sistemas de geração distribuída já são instalados com baterias. Temos outras realidades ao redor do mundo que demonstram que isso vai chegar aqui”, disse o especialista.

Conforme análise da Bloomberg New Energy Finance (BNEF), em 2023, cerca de 70% dos sistemas fotovoltaicos residenciais na Alemanha e Itália, além de 20% na Austrália e 13% nos Estados Unidos, contavam com armazenamento em conjunto.

Redução de preços

O vice-presidente de negócios, marketing e inovação da UCB, Marcelo Rodrigues, destacou que, mesmo com o uso limitado a aplicação de backup, o mercado brasileiro de baterias residenciais apresentou um forte aquecimento no último ano, muito em função da queda de preços dos equipamentos.

“Nós e outros players temos enxergado um crescimento. O integrador de energia solar abraçou a bateria e entendeu que ela traz um benefício para o usuário, mesmo ainda não explorando toda a potencialidade. Imagina quando superadas as questões regulatórias? Esse mercado tem muito espaço para avançar”, disse Rodrigues.

Conforme estudo da Agência Internacional de Energia (IEA), as baterias de íon-lítio registraram redução de 90% nos custos entre 2010 e 2023, com preços caindo de US$ 1.400 por quilowatt-hora (kWh) para menos de US$ 140/kWh.

A pesquisa destaca que essa é uma das quedas mais rápidas já registradas entre tecnologias do setor de energia, resultado do progresso em pesquisa e desenvolvimento e de ganho de escala na fabricação.

A IEA ainda prevê que inovações químicas e em processos de fabricação devem reduzir o custo médio global de baterias de lítio em mais 40% de 2023 e 2030 e viabilizar a entrada de baterias de íon-sódio ao mercado. Essa nova tecnologia é mais barata e não faz uso do lítio, resultando em custos de produção que podem ser até 30% menores que das baterias de lítio.

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Ricardo Casarin

Repórter de economia e negócios, com passagens pela grande imprensa. Formado na Universidade de Metodista de São Paulo, possui experiência em mídia impressa e digital e na cobertura de diversos setores como petróleo e gás, energia, mineração, papel e celulose, automotivo, entre outros.

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